Fé e razão: harmonia da Verdade
No caminho que se trilha para o conhecimento da Verdade, da qual a Igreja é depositária e servidora, a fé e a razão constituem como que as duas asas que conduzem o espírito humano. Foi Deus mesmo quem plantou no coração do homem o desejo de conhecer a Verdade.
Nessa busca perene, o homem precisa servir-se da fé e da razão, não como dois elementos antagônicos, mas como dois aspectos que se entrecruzam e se equilibram no caminho da Verdade, que é Deus. Muitos negam a fé como elemento constituinte da natureza humana e, em nome da ciência e da racionalidade, negam Deus e a fé.
Do contrário, a Igreja ensina, em sua doutrina e em seu magistério, que a fé é uma constituinte do conhecimento racional. São João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, afirma que “a razão do homem não é anulada nem humilhada quando presta assentimento aos conteúdos da fé”.
Desde o início do cristianismo, na relação entre fé e filosofia, e de um modo especial com os Doutores da Igreja, sabe-se que a fé supõe e aperfeiçoa a razão. Esta, iluminada pela fé, fica liberta de muitas de suas limitações, e constrói saberes concretos e verdadeiros.
Os Padres da Igreja, ao propagarem a mensagem cristã e encararem as filosofias, não temeram em reconhecer o papel da razão. A prioridade da fé não faz concorrência à investigação da própria razão. Assim, ao passo que a busca da Verdade é impelida pela razão, a fé assume o comando quando a razão chega ao seu limite.
Nesse caminho, Santo Tomás de Aquino ocupa um lugar especial. Ele teve o grande mérito de colocar em primeiro lugar a harmonia que existe entre a razão e a fé e argumentava que a luz da razão e a luz da fé provêm ambas de Deus.
Com toda essa discussão, somos advertidos do grande perigo de construir a fé sem o auxílio da razão. Uma religiosidade madura e consciente exige o aparato da razão. Sabe-se que a fé mais pura e autêntica brota do coração dos mais simples e humildes, mas há muitas pessoas que desenvolvem ritos e seitas de forma inconsciente e irracional, com uma fé prejudicial e alienante.
É o caso de muitas correntes religiosas extremistas e fechadas, que não se abrem ao diálogo e que enganam as pessoas, muitas vezes com interesses financeiros. Por isso, a busca da Verdade deve estar alicerçada em uma fé questionadora, inteligente e autêntica.
Confirma-se, assim, uma vez mais, a harmonia fundamental entre o conhecimento racional e o conhecimento da fé: a fé requer que o seu objeto seja compreendido com a ajuda da razão. Por sua vez, a razão, no apogeu da sua indagação, admite como necessário aquilo que a fé apresenta. Ambas se harmonizam na Verdade, que é o próprio Deus.