O Domingo de Ramos e a Grande Semana
Escrito por: Matheus Ribeiro, seminarista – Seminário São José, Diocese de Sobral
A entrada em Jerusalém teve um motivo, foi profetizada pelo profeta Zacarias (9,9), diante disso, assim como aquele povo que bradava de “Hosanas” Nosso Senhor ao entrar em Jerusalém, nós devemos aclamá-Lo em nosso coração. O Domingo de Ramos, porta da Semana Santa distingue-se de dois mistérios distintos e complementares: a solene entrada de Jesus em Jerusalém e sua Paixão e morte.
Como Deus espera de nós afetos de corações preparados, não de sentimentalismos súbitos, deslumbrantes são as disposições que a Santa Igreja nos prepara para vivermos com dignidade esta Semana Santa. Iniciada na Quarta-feira de Cinzas, fazendo memória da nossa terrível condição, lembrando-nos da cinza e do pó que somos, dedica-se neste dia o jejum. Não somente isso, mas com uma aparente insatisfação, a Santa Igreja acrescenta a este período lúgubre, de austeridade e penitencia, a representação da dor e da tristeza, do sofrimento e do vazio, o encobrimento dos nossos altares, das imagens sacrossantas do Cristo crucificado, encobrindo com pesar as dores de Nosso Senhor. Assim como os crucifixos, as imagens dos Santos, expoentes do incondicional amor pelo Servo Sofredor, são eclipsadas pelo véu do assombro e da confusão, do desnorteamento e da incompreensão do mistério da morte de Jesus. Os hinos dos anjos enobrecidos pelo sol reluzente que outrora cantávamos no caminhar da procissão de Ramos, agora faz-se noite silenciosa e perturbadora.
É a Semana Maior, aludida aos maiores mistérios da nossa redenção. A maior prova de amor, excessiva a ponto de esvaziar as forças do Filho Deus, derramar as últimas gotas do seu Precioso Sangue pelo chão daquele povo incrédulo; o mais tremendo exemplo do esvaziamento de um homem em virtude do seu amor pela humanidade. Não fez a sua, mas a vontade do Pai. Requer de nós não menos que a nossa entrega total, a nossa imediata mudança de vida. Está fechando a quaresma, a preparação, as cortinas que nos direcionam para o Sancta Sanctorum. As Sagradas Leituras, a cor austera que pinta a quaresma, o pouco ornamento e as diversas admoestações da liturgia nos fizeram perceber que não se tratava de uma simples vivencia de um mais um tempo penitencial, tratou-se de invocar mais uma vez, dada as tantas oportunidades, uma verdadeira conversão do nosso ser. Manifestou ser o período que devemos ter para todo o ano, com as mesmas disposições de mudança. O jejum, a penitência e a intensa oração valem como um sagrado Trivium para a edificação da nossa alma.
Procuremos mortificar alguma coisa, nessa semana, nos cinco sentidos, assim como Cristo padeceu em todos. Adão e Eva pecaram com o ouvir, escutando a serpente; pecaram com o ver, visando o fruto; pecaram com o palpar, tirando o fruto da árvore; pecando com o cheirar, cheirando-a; pecaram com o paladar, comendo o fruto proibido. Pecaram inconsequentemente, e nós, frutos de tamanho horror, pecamos infinitamente. Cristo padeceu em todos os sentidos, para pagar o pecado de Adão. “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus”( Fl 2, 5).
Valei-nos, ó Virgem Maria, não nos deixe expostos ao pecado nem à vontade própria. Ajudai-nos a oferecer estes ramos, humildes obséquios que depositamos aos sacratíssimos pés de Nosso Senhor. Ele que nos faz valer a vida, a alma e a salvação.