A guerra de Canudos; uma história de resistência.

0

Lucas Monteiro Barbosa – seminaristalucas18@gmail.com

Iniciada em novembro de 1896, a guerra de Canudos, no sertão baiano, já se preanunciava desde a proclamação da república. Entretanto, diferentemente do que se achavam nas capitais, Canudos não era um reduto de monarquistas, não intentava reintegrar Dom Pedro II ao trono. O beato Antônio Conselheiro, peregrinava pelos sertões, a exemplo do padre Ibiapina, pregando a fidelidade ao credo católico, talvez prevendo as mudanças que viriam com o novo regime no país. É bem verdade, que a seu modo, o catolicismo popular do Nordeste fora muito criticado, sobretudo pelo alto clero brasileiro, mas fora com essa ingenuidade e – para os doutos – fanatismo que o catolicismo chegara aos rincões sertanejos. Antônio Conselheiro expressava e liderava este povo “inculto” rumo a um lugar onde pudessem exercer sua religiosidade, mas também pregando contra a república. Desaprovados pelo governo, a guerra era iminente.
Canudos chegou a ser, em apenas quatro anos de fundação, a maior cidade do interior baiano, com uma população aproximadamente de vinte e cinco mil habitantes. Às margens do rio Vaza-Barris, em uma fazenda abandonada chamada Canudos, onde já havia alguns poucos moradores nos arredores desta fazenda. Lá, em novembro de 1893, o beato Antônio Conselheiro e seus seguidores fundaram a comunidade de Belo monte. Vivendo à sua maneira, mas, sobretudo, à luz do Evangelho, Canudos despertara a preocupação da Igreja e, principalmente, do governo federal. Após um mal entendido em Juazeiro da Bahia, a primeira expedição fora enviada para dispersar os “jagunços” daquele “reduto de monarquistas”. Comandada pelo tenente Pires Ferreira, a primeira investida contra Canudos contava com 113 combatentes. No entanto, a pau e pedra, os conselheiristas conseguiram rechaçar a tropa nos arredores de Uauá – BA.
A segunda expedição teve dois dias de combate, iniciado no dia 18 de janeiro de 1897. Contara com 119 combatentes sob o comando do major Febrônio de Brito. Outra derrota acachapante. Desmoralizado, o exército decretara de vez a questão de honra no intento contra Canudos. O governo envia, para pôr termo ao arraial, o mais ilustre oficial do exército, o coronel Antônio Moreira César, o Corta cabeças, liderando um contingente de 1300 soldados, além de outros oficiais. Outra derrota. Dessa vez, o país inteiro fitara os olhos na guerra, Moreira César, o herói de guerra do país, havia tombado morto na malograda investida, a 04 de março. Muitos dos cadáveres deixados na fuga da tropa ficaram bizarramente expostos nos caminhos a Canudos. Além disso, o contingente também deixara armas e munições para trás. Ressalte-se que somente agora, os conselheiristas estavam devidamente armados.
A quarta e última expedição fora chefiada pelo general Arthur Oscar Guimarães. Chegando ao morro da Favela, às portas do arraial, em fins de maio, com um contingente formado por 5000 homens. O número de combatentes de ambos os lados vai se alterando ao longo de cinco meses de combate. Do lado do exército, foram muitos pedidos de reforços, dado o número de baixas no combate. Em agosto, o número de soldados passa dos 10.000. Canudos mostrara uma tenaz perspicácia bélica. Mesmo após a morte de seu líder, Antônio Conselheiro, a 22 de setembro, os conselheiristas não se entregaram, estendendo o combate até 05 de outubro, restando apenas quatro resistentes, dois homens, um velho e um menino. Foram muitos os prisioneiros do exército, eram mulheres, crianças e idosos, muitos foram cruelmente executados. Em seus últimos dias, Canudos fora retratada por Euclides da Cunha, enviado como correspondente do jornal O estado de São Paulo. De forma dramática, a guerra de Canudos está eternizada na obra de Euclides da Cunha, Os sertões. No fim da guerra, a campanha do general Arthur Oscar fora muito questionada, pois, embora as capitais clamassem por uma intervenção militar a Canudos, a forma criminosa com a qual Canudos fora expugnada muito impressionara todo o país.
Para evitar que as ruínas de Canudos pudessem simbolizar um marco de insurgência contra o governo, nos anos de 1940, o governo de Vargas aprova a submersão dos destroços pelo açude Corobobó, o que se realizou no regime militar, nos anos de 1960. Ainda hoje se pode ver, em períodos de seca, parte dos escombros. Canudos parece teimar em não desaparecer. Seus escombros acenam para a posterioridade como uma representação da luta do povo por dignidade, moradia e expressão. “Canudos não se rendeu” e está presente no folclore nordestino, uma herança cultural para as gerações subsequentes de nordestinos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *