O terrorismo biomecânico da postura correta: isso existe?

A postura é um dos temas mais abordados quando falamos sobre a coluna, e sempre ocupa grande espaço nas discussões e tratamentos oferecidos no mercado, mas será que ela importa tanto assim?
A postura deve ser levada em consideração, porém não com toda a importância que é dada a ela, como se fosse a causa de tudo.
Estudos mostram que além de não existir muita relação entre dor e postura, os próprios profissionais da saúde não entram em concordância sobre qual a “postura ideal”, e quando entram, os pesquisadores concordam que isso causaria muita sobrecarga muscular a qual poderia a longo prazo levar a um quadro doloroso. Um estudo desenvolvido por Lima e colaboradores, publicado em 2018, mostrou que pacientes com dor lombar possuem uma maior ativação nos músculos da região lombar, portanto pedir para os pacientes ficarem com a coluna “reta”, “barriga para dentro, peito para fora”, talvez não seja o melhor caminho. Ao contrário, pedir para eles relaxarem e fazerem uma atividade física que os mesmos gostem terá mais resultado do que sentar, deitar, permanecer em uma posição ou andar com a postura “correta”.
Alguns pacientes se sentem confortáveis com a postura mais ereta, assim como outros se sentem melhores com a postura mais curvada, isso muda de pessoa para pessoa, então uma orientação para os pacientes com dor na coluna seria: Ache uma posição que não sinta dor e que se sinta confortável, seja ela mais ereta ou curvada, e relaxe a musculatura! Tenha cuidado apenas com o tempo que permanecerá na postura escolhida e varie sempre que possível.
O mesmo vale para a coluna cervical, o tão mencionado “Text Neck” ou pescoço de texto em tradução literal, o qual muitos falam que ao usar o celular olhando para baixo causará dor cervical por aumentar a sobrecarga na região também é um mito! Em um estudo realizado por Damasceno e colaboradores, publicado também em 2018, foi demonstrado que não há associação entre essa postura e a dor na região cervical em jovens de 18 a 21 anos.
Quando o assunto é a dor, principalmente a crônica, devemos olhar o paciente como um todo e não apenas como uma pilha de ossos recobertos com músculos e fáscias.
A dor é multifatorial e insistir na busca por uma única causa traz mais prejuízo do que benefício, gera mais crenças negativas em relação a coluna e transforma as pessoas em robôs. Vamos combinar, quem aguenta passar o dia inteiro contraindo o abdômen para proteger a lombar? Quem aguenta passar o dia inteiro sentando com a coluna ereta? Essas orientações não tem embasamento científico e chamamos de terrorismo biomecânico (título desse artigo).
Por fim, pense no seu corpo como uma máquina e no movimento corporal como o combustível. Nosso corpo foi projetado para o movimento é não para a inércia. Como diria Blaise Pascal: “A nossa natureza está no movimento, o repouso completo é a morte.”
Kerlon Lira, Fisioterapeuta, Osteopata e diretor clínico da CLINIDOR – Tratamento da dor. Diretor regional da ABRCOLUNA Autor do livro: Manuel de sobrevivência da coluna: lições da pandemia.



