PADRE IBIAPINA: Ainda ilustre desconhecido em sua terra. Por quê?

Nesta segunda-feira (19), transcorre o 141º aniversário da morte do Padre Ibiapina (foto); em 5 de agosto, o 216º do seu nascimento. Não obstante o grande e valioso trabalho de divulgação feito pelo Monsenhor Sadoc de Araújo e por mais algumas pessoas, lamentavelmente Padre Ibiapina continua sendo um ilustre sobralense desconhecido por muitos conterrâneos.
Observa-se, inclusive, que dentre os que conhecem sua história, alguns demonstram não ter muito interesse em divulgá-lo com a intensidade que o famoso missionário sobralense bem merece. Nisso cabe incluir até mesmo alguns remanescentes da família. Agora, deixa virar Santo…
Para quem ainda não sabe, José Antônio de Maria Ibiapina, cognominado “Peregrino da Caridade”, nasceu em Sobral (CE) a 05 de agosto de 1806. Além de sacerdote católico, foi professor universitário, advogado, delegado de Polícia, juiz de Direito e deputado geral (hoje equivalendo a federal). Durante os 76 anos de sua vida esteve sintonizado com a vontade do Pai, tudo fazendo para encaminhar-lhe almas e agindo para minorar os sofrimentos dos seus filhos pobres, sofridos e sem ter pra quem apelar,
Com essa filosofia, em suas missões percorreu a pé ou em animais os estados do Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Por onde passava, além de promover a evangelização, a paz, a conscientização, a educação moral, ambiental e o civismo, Pe. Ibiapina construía açudes, cemitérios, escolas, hospitais igrejas e suas famosas Casas de Caridade (22), algo que nem mesmo alguns governos conseguem fazer até hoje.
Pobre e doente, Pe. Ibiapina faleceu no distrito de Santa Fé – Solânea (PB), a 19 de fevereiro de 1883, onde está sepultado.
Em 2016 integrantes da Congregação para a Causa dos Santos, da Santa Sé, estiveram em Guarabira (PB), realizando investigações do processo de beatificação do já considerado “Servo de Deus”, título que recebem aqueles cujo processo de beatificação é iniciado.
Fora da sua terra, Pe. Ibiapina é muito reconhecido, aclamado e respeitado desde pessoas simples do povo a grandes vultos do País. Por exemplo, Gilberto de Mello Freyre (1900-1987), sociólogo, antropólogo e escritor brasileiro, curvou-se diante da importância do padre sobralense, chegando a considerá-lo “o maior nome da Igreja Católica no Brasil”. Seu artigo intitulado “O exemplo de Ibiapina”, publicado n´O Jornal (Rio), em 09.06.1942, foi o pretexto para a prisão do sociólogo pelas autoridades do Estado de Pernambuco.
Nele, Gilberto Freyre citou: “Ibiapina foi realmente isto: uma enorme força moral a serviço da Igreja e do Brasil”. Naquela época (1942), ele disse também: “Noutro país cristão a obra do padre Ibiapina – suas boas e santas “Casas de Caridade” – seriam hoje uma força organizada a serviço cristão dos sertões. Seria uma força organizada semelhante à dos Salesianos”. E, sem receio de represálias, Freyre sentenciou: “Nunca o Brasil precisou tanto como hoje de padres que ao ideal universalista de católicos, à larga simpatia humana de cristãos, reúnam, como Ibiapina reunia, a autenticidade de sua condição, do seu sentimento e das suas preocupações de brasileiros”. Por causas de algumas dessas afirmações o sociólogo experimentou a cadeia.

Túmulo Pe. Ibiapina – Distrito de Santa Fé – Solânea (PB)

A exemplo de Gilberto Freyre, outros estudiosos, brasileiros e estrangeiros, continuam a se debruçar sobre a vida e a obra de Padre Ibiapina. A internet está repleta de sites sobre este notável sobralense e centenas de escritores eruditos e populares tentam enaltecer e divulgar para as novas gerações a importância que Ibiapina teve para a Igreja e para o mundo.
Em âmbito local, antes das obras do Mons. Sadoc de Araújo, Dom José Tupinambá da Frota, primeiro bispo e o maior benfeitor de Sobral, dedicou ao Padre Ibiapina várias páginas em sua “História de Sobral”. Nelas, Dom José dando ênfase à importância das Casas de Caridade como embrião da futura Santa Casa de Misericórdia.
Para consagrar ainda mais o incansável missionário, os paraibanos, que acolhem seu túmulo, não cansam de reconhecer o valor dele e de lhe render grandes homenagens, o que também ocorre em outros estados beneficiados pelas missões do Peregrino da Caridade. Nessas missões, Pe. Ibiapina pregava a Palavra de Deus; levava educação, estímulo e consolo aos carentes; construía açudes, cemitérios, Casas de Caridade, dentre outras importantes realizações.
Vale destacar que tudo isso era feito pelo Padre Ibiapina em mutirão com o povo, sem ajuda governamental. Realizava, enfim, um impagável trabalho, que beneficiava tanto o lado espiritual como material daqueles sofridos nordestinos. Sua iniciativa em realizar obras sociais serve de lição para os atuais governos que, mesmo com recursos financeiros e modernos equipamentos não consegue realizar em todas as regiões mais necessitadas.
Diante de tudo isso, insisto numa pergunta que continua a me inquietar. Ei-la:
Por que, então, os cearenses, em especial os sobralenses, que acolhem o berço do sacerdote, ainda não despertaram para reconhecer mais, divulgar mais e homenagear condignamente Padre Ibiapina e, assim, saldar a dívida histórica de gratidão? Por quê? Por quê? Por quê?

LAMENTO
O Padre Mestre recebe em Sobral diversas homenagens, como nome de um bairro, de uma rua, medalha “Jurista Pe. Ibiapina”, nome de um Centro de Evangelização, dentre poucas outras. Mas uma não citada está a simbolizar todo o descaso, a falta de zelo e de respeito pela figura desse ilustre sobralense.
Refiro-me ao Largo Pe. Ibiapina, no bairro de mesmo nome, que se encontra depredado, com estátua danificada (sem um braço) e sem nenhuma conservação. Em vez de ponto de visitação, o local transformou-se em ponto de encontro de marginais, oferecendo risco para quem lá reside ou para quem apenas por lá transita.
Em respeito à memória do Pe. Ibiapina e ao trabalho incansável do Mons. Sadoc de Araújo, que tanto fez para divulgar e oferecer o reconhecimento e as homenagens devidas a esse “Peregrino da Caridade”, conclamo Clero, OAB, Universidades, órgãos de segurança, católicos, a intelectualidade e admiradores do homenageado Pe, Ibiapina para que juntos exijamos as devidas providências quando ao vergonhoso descaso.
EM TEMPO: Que nosso grito chegue ao Alto, até Santo Ivo, Padroeiro dos Advogados. Quem sabe, seu xará daqui de baixo, prefeito Ivo Gomes, sensibilizar-se-á, o problema será resolvido e o colega deles (advogado) e defensor de todo nós – Padre Doutor José Antônio de Maria Ibiapina – estará recebendo o respeito e a homenagem que merece.

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