Herculano Costa Comenta

Cuidar dos idosos: é um ato de amor e respeito
O Brasil está envelhecendo. Esta afirmação fizemo-la em matéria anterior, aqui mesmo neste espaço. E isto é um fato, oficialmente comprovado. A expectativa de vida no país já alcança uma média de 76 anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Nossa sociedade hoje tem aprovado o Estatuto do Idoso, com o objetivo de garantir uma melhor qualidade de vida para as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, buscando assegurar direitos para a saúde, lazer, educação, prioridades em atendimentos públicos ou privados.
Infelizmente, muitas vezes esses direitos não são reconhecidos, seja por falta de informação ou por falta de respeito ao idoso, mesmo.
No Estatuto do Idoso, no Título I, das Disposições Preliminares no Artigo 3º, diz que:
“É obrigação da família, da comunidade, da sociedade, do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Em razão disso, em todos os estados da Federação e no Distrito Federal foram instalados, Núcleos Especializados para o Atendimento às Pessoa Idosa. Na capital cearense o Núcleo Funciona na Defensoria Pública do Estado (DPCE), onde diariamente são atendidos idosos que, em situações diversas de autonomia ou dependência, acorrem àquela instância jurídica em busca de apoio jurídico que possam garantir seus direitos. As demandas são as mais diversificadas. As mais comuns incluem inventários, usucapião, interdições, curatelas, guarda, maus-tratos, reparação de danos etc.
Segundo dados divulgados pelo Núcleo da Capital, só no ano passado, (2024), foram registrados 23.170 procedimentos em atenção aos idosos, quase o dobro do ano anterior (2023).
No interior do nosso Estado, os Núcleos funcionam, ao que se sabe, nas sedes das Defensorias Públicas das Comarcas ou mesmo agregados às Secretárias de Direitos Humanos e Ação Social, como é o caso de Sobral.
A respeito do aumento da expectativa de vida em uma sociedade, como a nossa, crescem também os desafios de assegurar cuidado e proteção às pessoas idosas, o que, segundo a Constituição Federal e o Estatuto do Idoso, é um dever compartilhado entre família, sociedade e Estado.
Mas, apesar da oficialização de todo um aparato legal em torno dos direitos da pessoa idosa ainda há muita discriminação, desrespeito, deszelo e omissões respeitantes a essas obrigações com as pessoas de idade avançada.
É possível constatar facilmente o quanto a nossa sociedade vincula a velhice com a finitude do ser humano. Muito se vê na mídia, nas redes sociais, em programas jornalísticos, a falta de espaço que o idoso tem na sua comunidade, na sociedade e até no seio familiar. De repente, as pessoas mais velhas estão mais equiparadas às coisas que não servem mais ou para coisas que não funcionam mais, do que para a condição de seres humanos. As famílias, na melhor das situações, procuram uma atividade que ocupe o tempo do seu idoso, sem questionar o sentido dessa atividade para ele. O idoso tem vontade própria. E isso deve ser respeitado!
O descaso acontece em todos os setores: social, familiar, emocional e cuidados com a saúde, onde pouco se faz pela pessoa idosa.
Todos sabem que envelhecer é uma fase da vida que exige apoio e respeito. Garantir o cuidado das pessoas mais velhas, não é apenas um dever constitucional, mas um compromisso ético com a dignidade humana, da família, da sociedade e do Estado.
Um dos fatores que estão ligados diretamente ao bom envelhecimento é o ambiente familiar, pois representa um importante papel na vida do idoso. Nela acontecem as interações, se fundamentam os vínculos, onde cada membro busca exercer o seu papel respeitando a individualidade do outro.
A constituição de 1988 delega à família o “amparo às pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”. Em contrapartida, em alguns casos, o Estado não garante a subsistência dessas famílias, que se encontram vulneráveis socioeconomicamente, destituindo assim o seu papel de provedora ao idoso que pertence a esse grupo familiar. Esse é um quadro que tem se apresentado em maior número ultimamente, principalmente em função da alta taxa de desempregados. No entanto, os vínculos sociais e emocionais se fazem necessários para assegurar uma estabilidade emocional deste idoso.
Essa dependência emocional faz com que o idoso se fragilize, onde as relações ficam num patamar introspectivo. A afetividade da família para com o idoso é de suma importância para a sua estabilidade emocional.
A comunidade e a família têm que estar atenta aos anseios, angústias, desejos os quais quase nunca são questionados e respeitados. Num ritmo frenético, a vida atual traz um novo modelo de formato familiar, menor número de filhos, o que pode acarretar a diminuição aos cuidados com os pais, e mulheres atuando no mercado de trabalho, reduzindo assim o tempo que ficaria em casa para cuidar de seu idoso. Todas essas questões passam despercebidas e o idoso acaba ficando isolado e “fora” do planejamento das atividades cotidianas de um círculo familiar.
Com o aumento da expectativa de vida, a nossa sociedade ainda não se preparou para receber essa nova demanda. As famílias procuram uma atividade que ocupe o idoso sem se preocupar se ele está interessado em coisas que “ocupem o seu tempo”.
A vontade do idoso vai se tornando cada vez mais inoperante. O importante aqui é ressaltar o seu bem-estar e resgatar sua dignidade, valorizando suas qualidades e atributos onde ele possa ainda contribuir com o meio em que vive, respeitando suas vontades. O idoso não pode e nem deve ser considerado como algo que “já deu o que tinha de dar”!
Por Herculano Costa (*) – Jornalista RI. ACI N° 1.216 – (*) Formando em Psicanálise Clínica, com especialização em Neuropsicanálise, Professor, Escritor e Poeta.



