AS NECESSIDADES DA POESIA BRASILEIRA

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Tudo é discutido na poesia, menos um ponto: as necessidades da poesia brasileira diante da pós-modernidade poética. Neste sentido, podemos trazer, aqui e agora, um debate sobre a revolução inovadora, dentro das velhas áreas estilísticas poéticas, sem compromisso histórico ou ideológico.
Trata-se de uma estratégia pós-modernista, que descobre as novas necessidades poéticas dentro das velhas formas ontológicas. Não é termos: Moderno e Pós-moderno. Tais momentos da poesia não são opostos, pois, um está dentro do outro. Não é um estilo ou característica da obra poética, mas a perspectiva crítica que o olhar da modernidade lança sobre si próprio. Como dizia Otávio Paz: “ É uma tradição voltada contra si mesma, e essa necessidade que anuncia o destino da modernidade estética contraditória em si mesmo: ela afirma e nega ao mesmo tempo, decreta simultaneamente sua vida e morte, sua grandeza e decadência”.
Diante desse contraditório, existe apenas um aprofundamento, algo que o poeta Fernando Pessoa dizia: “eu não evoluo, viajo”. O que há de importante é deixar a poesia viajar, com os seus desencontros, acertos e desacertos. A poesia é uma vereda, um questionamento. É por isso, que existem as necessidades filtradas pela invenção poética, que abre um corte profundo na pós-modernidade vivida hoje. Já não há mais dúvida que, dentro das revoluções renovadoras no nosso meio literário, as reinvenções, se estabelecem entre as novas formas poéticas e os fragmentos das velhas sensibilidades poéticas que herdamos.
Obviamente, é dentro dessas necessidades que vem sendo construída a poesia brasileira. Aqui está um exemplo: o soneto era um pecado, se não existisse uma métrica rigorosa, no entanto, hoje, muitos poetas considerados marginais, ousam romper esse tabu, eles pegam um soneto e fazem uma experiência visual. Ou, então, invertem a prosódia dos versos.
Isso abre espaço para outro processo renovador. Vejamos o que diz o crítico Fábio Lucas, quando se refere ao soneto com uma forma moderna, diz, “O soneto, contém uma dicção nova, revelando possibilidades originais dentro da velha forma rígida”. Aqui citamos um poeta como Nauro Machado, que diz em seu soneto: “Metrópole terrível, chão de aranha,/ também cidade entregue à vil serpente,/e ao lado e ao musgo, aurífera montanha/tornada vale e chão de toda gente: sem pranto chora a carne tua estranha,/a carne enfim de ti tua amante ausente,/chora aos olhos que água alguma banha,/chora o oceano vazio em ti, eternamente”.
Neste sentido, o poeta não se opõe à tradição clássica dos versos, conjuga-se um pouco com ela. Ora, é justamente esse olhar desenvolvido pela consciência do momento literário que o pós-modernismo, também, se lança ao barroco, tal como expressão “neobarroco” descrito por vários estudiosos. E isso que explica que este nômade comporta uma movediça poética, que não se estabiliza numa forma, que lhe trai em um momento, para não desencantá-la, mas logo a seguir ela visita o passado. Enfim, o encontro com a estética da modernidade, o que a poesia pode alcançar, se a poesia é uma busca, e uma busca não chega ao fim? É apenas um caminho.
A nosso ver, é sem dúvida um olhar da exigência do mundo velho, que herdamos capaz de colocar, o Pós-modernismo e a desconstrução no banco dos réus, aplicando sobre eles o mesmo veredito crítico que permite níveis de leituras, defendendo a ótica escolhida pelo leitor.
Creio que, nesse sentido, podemos tomar como uns bons exemplos os estilem barrocos no Pós-parnasianismo desfaçado de Pós-simbolismo, ou as degenerescências do concretismo. Basta outro exemplo, para ilustrar o que dizemos. O poeta pós-concretista Augusto de Campos insiste em desafinar o coro dos contentes, vertendo o poema com a estratégia digital, ou seja, é a forma se dizendo pós-moderna para significar a própria inundação do moderno.
Isso é fácil de entender. Vejamos nas versões dos versos de Casimiro de Brito: “No velho tanque,/ uma rã salta-mergulho,/ ruído na água”. Na transcrição de Haroldo, ele verte: o velho tanque, rã talt tomba, rumor de água. Ora, ele incorpora, assim, a característica do desenho animado. Ou seja, existe uma lógica da desconstrução que patrocina para o leitor fluir pela ideia e construir uma boa imagem em movimento a partir das sugestões metafóricas dos versos. A conversão dele é muito poética.
Obviamente é um debate questionador. Porque, existem outras abordagens, além, do momento que se sonda a natureza dessa fecundidade das necessidades poéticas, que em podemos questionar depois. Embora, sabemos que a grande poesia é sempre difícil. Mas existe aquele novo poeta que nasceu fundamentalmente para fazer poesia extraordinária.
Portanto, são essas as conclusões a que se chega, quando se tenta a avaliar ou interpretar em conjunto a expressiva safra da poesia pós-moderna. Há um século, Mellarmé, dizia: que o poeta tenta descobrir outra verdade essencial, subvertendo uma ordem, desconstruindo uma nova fala.
Afinal, a despeito dessas necessidades poéticas, partindo do pressuposto, parafraseando algo que Goethe definiria da seguinte forma: “Se eu tivesse sabido ver, como hoje, quantas novas obras primas existem no Brasil e no mundo”. Digo a poesia brasileira está aí, para provar suas belas necessidades.

Jornalista, Historiador e Crítico Literário.

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