DAVI HELDER E AS HISTÓRIAS DE LEVI

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historias de levi

Conheci Davi Helder. Foi na noite de autógrafo do livro, de escritor Herculano Costa, na Academia Sobralense de Estudos e Letras. Eu na minha timidez ordinária, ele, acadêmico, de que me servia para o intermédio das apresentações aos seus confrades. Nos meus passos no salão nobre da academia, por mais que me procurasse disfarçar dos olhares atentos dos convidados. Mas a forte simplicidade humana de Davi me conduzia com os adjetivos e às fórmulas cabais de me recepcionar e apresentar aos seus confrades. Aliás, ele me fez uma demonstração de cultura, comentando a narração das crenças, tradição literária, costumes, virtudes públicas e privadas dos sobralenses. Ouvindo dele, uma bela educação de história.
Segundo Haroldo de Campos “a educação dos sentidos é a finalidade da história universal”. Assim, “quando mais uma pessoa ouve mais ela pode apreciar música”. Pode-se mudar o exemplo para a literatura, imaginando que Haroldo o endosse: quanto mais se lê, mais se pode apreciar a leitura. Essa busca pela literatura louva o escritor Davi Helder de Vasconcelos, que publicou os seus primeiros contos: “Histórias de Levi e Outras”.
Vale indagar se as razões pelas quais os contos foram tão bem recebidos e se correspondem ao significado autêntico do gênero conto, ou se, como por vezes acontece teriam sidos louvados por amigos que estariam mais presentes nas leituras em que deles foram feitas. Com efeito, os primeiros leitores enalteceram a elevação literária que apontaria para um escritor estreante capaz de atingir os cumes da literatura.
Realmente o contista Davi Helder se esmerou na construção das personagens e na elaboração de narrativas em que as características estão bem acentuadas nos contos que formam o seu primeiro livro, lançado na Casa da Cultura, em Sobral.
Davi Helder adquire, na sua primeira obra: “Histórias de Levi e Outras”, a forma, da consciência do valor emocional de um bom contista. Os contos pontam nas atmosferas temáticas, em que o autor tem uma preocupação com a estrutura das formas dos textos, que reside na essencialidade literária. Essa autonomia servirá como arma decisiva no realismo das histórias, sustentando o pensamento emancipado com o sentimento do povo nordestino.
Portanto, nos contos, talvez ele não tenha o realismo-psicologia da crítica de um Machado de Assis, mas tem a essência da expressão do complexo da simplicidade que consegue se incorporar a uma espécie de um gênero literário tão pouco bem trabalhado. Como se sabe, a criação literária é um itinerário sem fim, em que jamais o criador poderá contemplar obra completa. O que se pode dizer, de um modo ou de outro, o autor não se deixa escapar da influência machadiana, que de certo modo está oculta, criando uma excitação prazerosa no leitor.
Aqui não cabe fazer comparações de contistas bons e ruins, queremos apenas chamar atenção do leitor para alguns pontos fundamentais do pensamento literário desse gênero literário extraordinário dos costumes, dos fatos e das paixões.
Trata-se de um autor com uma clara vocação pelo conto. Certamente, como um Murilo Rubião, Álvares de Azevedo, Dalton Trevisan, Cora Coralina e uma novata, Socorro Magalhães dentre outros, com a única trajetória digna de uma vocação literária. Como bem faz o estreante Davi Helder, em seu livro, “Histórias de Levi e Outras,” fazendo apelo ao seu particular estilo.
Obviamente, os seus contos é realmente um apanhado exato da vida, de Sobral. Muitas pessoas se sentem logo retratados no livro. Padre, comerciantes, doutores e políticos. Os casos aconteceram realmente. Apenas o contista dá ao episódio um sentido mais pitoresco. Como no humorado conto: O comício. Na história:
O personagem, Aureliano candidata a vereador, com a intenção de fazer um comício, pede emprestado um livro de História Universal, a Levi, explicando que queria ler, para melhorar os seus conhecimentos políticos. No comício, o candidato, fez o seu discurso trocando o nome do Rio São Francisco por Rio Nilo, e citando várias autoridades egípcias, como Alexandre, o grande, e a rainha Cleópatra por ter eles aprovados o seu pleito. E recebendo dos seus eleitorados as ironias merecidas. Com isso, o escritor desejou enfatizar uma crítica política da elaboração literária.
Seus contos, todos eles são um apanhado muito vivo e muito fiel da vida provinciana de Sobral. A elaboração da narrativa se associa tão estreitamento aos personagens, de acordo com a moralidade estética professada pelo autor aparentemente orientado pela valoração da vida pública.
Essa trajetória purifica suas relações com seres humanos, pai, mãe, amigos, são vividos numa espécie de sua experiência. E neste sentido que entendemos que o personagem Levi é o centro da história. É certo que as outras personagens, como o Zé da Cruz, o radialista Manoel do Rádio e o Chico do Bar, nas histórias aparecem como registros históricos, em forma de preciosos contos. Ou seja, é à base de sua narrativa: alguém que seria protagonista na vida real, em condição existencial e social da cidade de Sobral.
Trata-se de um contista estreante. Davi Helder cultivou intensamente a integridade dos contos com uma vocação vivida de modo completo, uma doação de si, para que a obra viva. Por isso, o trabalho de sua criação é esse sacrifício. A glória a ser almejada é a própria literatura cearense, se assim se pode dizer, de Davi Helder, digno de ser um bom contista.
Jornalista, Historiador e Crítico Literário.

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