A CNBB e a Doutrina Social da Igreja

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Em sua Carta Apostólica, Novo Millenio Ineunte, o Papa João Paulo II falou da necessidade de discernir e rejeitar a “tentação de uma espiritualidade intimista e individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com a lógica da encarnação” (NMI 52).
Essa espiritualidade, –e mais do que isso- essa mentalidade precisa ser superada por muitos cristãos católicos, em meio à polarização exacerbada que estamos vivendo. No contexto atual, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem sofrido sérios ataques, desrespeitos e incompreensões por parte de membros da própria Igreja. Muitos que, em vez de semear paz e concórdia, semeiam ódio e divisão.
Acusa-se a CNBB de ter uma posição política. O problema é que muitos dos que criticam e espalham falsas informações nas mídias sociais desconhecem a Doutrina Social da Igreja. Esta contém uma série de princípios que orientam a ação pastoral da Igreja, como a busca pelo bem comum, a defesa da dignidade humana, a construção da justiça e da paz, a destinação universal dos bens da terra, a solidariedade e a participação.
Portanto, o que pauta as escolhas e as decisões da Igreja Católica no Brasil, através da CNBB, não é um posicionamento político, mas o compromisso com o Evangelho e o respeito à Doutrina Social da Igreja. Tudo o que emerge do que fez e ensinou Jesus de Nazaré, em sua práxis histórica libertadora, é o que faz os bispos brasileiros serem pastores do povo de Deus na sociedade de hoje.
Acrescente-se às exigências do Evangelho e à Doutrina Social da Igreja, as grandes marcas do pontificado do Papa Francisco. Ele, desde o início, pede uma Igreja pobre e para os pobres, uma atenção especial aos marginalizados e excluídos, a preocupação ecológica com nossa Casa Comum e um espírito de comunhão, participação e fraternidade entre todos os membros da Igreja.
Certamente, existem elementos próprios da ação da Igreja, em seu engajamento sociotransformador, que desagradam certos setores político-partidários, mas isso não deve minguar o anúncio do Evangelho. A Igreja permanecerá como uma fiel servidora do Deus da Vida, que nos enviou seu Filho, Jesus, “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Foi por causa desse anúncio que muitos profetas e profetisas da América Latina derramaram seu sangue, inpirados pelo Espírito Santo e pela prática libertadora de Jesus. Foram capazes de ouvir o clamor das vítimas e, em nome do Deus da Vida, denunciaram inúmeras formas de opressão de estruturas sociopolíticas injustas. Por causa disso, pagaram com preço de sangue.
Uma espiritualidade cristã encarnada assume um processo constante de conversão às exigências do Reino. Isso não é “ser de esquerda”, nem muito menos “ser de direita”. É ser cristão, assumindo um compromisso de vida no seguimento a Jesus. Vida que inclui uma atuação em prol dos irmãos, especialmente dos pobres, em vista da construção do Reino.
Que haja mais respeito aos bispos brasileiros e que se conheça mais a Doutrina Social da Igreja!

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