A dinâmica do Espírito na história da salvação

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Neste domingo, cinquenta dias após a festa da Páscoa, a Igreja celebra a grande solenidade de Pentecostes. Aos discípulos, Jesus envia o Espírito que havia prometido: “Virá o Paráclito, que Eu vos hei de enviar da parte do Pai” (Jo 15,26). Celebramos a vinda do Espírito Santo como dom supremo, o dom dos dons.
É da força dinâmica e vivicante do Espírito que nasce a Igreja. É Ele quem permite aos cristãos de ontem e de hoje, dar o assentimento de sua fé em Jesus Cristo, como já dizia São Paulo: “Ninguém pode dizer: ‘Jesus é o Senhor!’ a não ser sob a ação do Espírito Santo” (1Cor 12,3). Sem a dinâmica do Espírito, Jesus seria mais um homem bom na humanidade. Pelo Espírito, acreditamos que Jesus é a plena revelação de Deus.
E em toda a obra histórico-salvífica, Ele estava presente. Não podemos pensar que em cada etapa da história, agiu uma pessoa da Santíssima Trindade de forma isolada. De forma metafórica, Santo Irineu de Lião afirmou que “o Espírito e o Verbo são as duas mãos do Pai”.
De fato, o Espírito Santo aparece nas Escrituras sempre evocando ação e dinamismo. É revelado a partir de símbolos fluidos e impessoais (vento, fogo, água, unção com óleo, nuvem, perfume) que não contêm um conteúdo próprio, mas sempre revelam uma dinâmica que se move em direção a Jesus. Mais comumente, o Espírito é identificado como vento.
O primeiro relato da criação nos diz que “a terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas” (Gn 1,2). A interpretação critã tradicional reconhece no vento uma referência ao Espírito Santo, uma presença anterior à Palavra criadora que se refere à Cristo (Gn 1,3). O Espírito é também o alento de vida que Deus insuflou no primeiro ser humano, formado do pó da terra, para fazer dele um ser vivente (Gn 2,7).
Assim, vemos que o Espírito é o alento de Deus no mundo, em sua ação criadora e vivificante, invisível, mas real. O mesmo Espírito é que moverá com força as figuras que conduzem Israel: juízes, reis e sobretudo profetas, que ao profetizarem a libertação, a justiça e a paz, anunciam que o futuro rei messiânico estará cheio do Espírito (Is 11).
Este Espírito suscita o nascimento do João Batista (Lc 1,15), para preparar os caminhos do Messias. Desce sobre Maria de Nazaré (Lc 1,34), para fazer dela a mãe de Jesus. Este Espírito desce sobre Jesus no batismo, dando-o consciência de sua missão, e guia toda a sua vida terrena. O mesmo Espírito conduz Jesus a anunciar a Boa Nova aos pobres e oprimidos (Lc 4,18).
Atos dos Apóstolos nos narra como o Espírito animou a evangelização apostólica. Um mesmo Espírito suscitou uma diversidade de dons e carismas, que caracterizam a dinâmica das primeiras comunidades cristãs. Somente sua ação livre e eficaz explica a exultante audácia dos homens de bem, a irresistível dinâmica dos mártires e apóstolos de Deus, a transbordante alegria dos santos e a grande criatividade dos mensageiros do Reino de Deus na terra.
A cada festa de Pentecostes que celebramos, é preciso renovar essa presença do Espírito Santo em nossas comunidades. Ele é esse vento de liberdade, que sopra onde quer, e gera vida por onde passa. Que por Ele, a nossa práxis cristã seja mais vivencial, experiencial, mística, comunitária, acolhedora, ética e profética. O Espírito Prometido está entre nós, animando a Igreja de nossos dias, com sua presença atuante e renovadora.

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