A MAIS PERFEITA COMUNIDADE
Neste domingo, o primeiro após a festa de Pentecostes, celebramos um dos maiores mistérios da nossa fé cristã: a Santíssima Trindade. Essa solenidade convida-nos a mergulhar no mistério divino e a contemplar o Deus que, sendo unidade, revelou-se a nós na Trindade, uma família de Três Pessoas em perfeita e eterna comunhão de amor.
A princípio, parece que celebramos algo distante da nossa compreensão. No entanto, celebrar a Trindade é um convite a uma nova maneira de viver e nos relacionar com o Deus de Jesus Cristo. Em outras palavras, somos convidados a fazer a experiência cristã de Deus, cuja presença preenche o cosmos, irrompe na nossa vida, habita o interior de cada um de nós e é celebrado em comunidade.
De fato, a Trindade é um mistério, porque Deus é um mistério, mas isso não significa um enigma ou um código a ser decifrado. No sentido cristão, mistério não significa algo que não se conhece, mas algo que não se esgota. É algo que nos escapa ao entendimento, mas que pode ser experimentado na fé.
Nessa experiência de fé, irrompe a maneira trinitária de falar de Deus como um Deus-comunhão, um Deus-amor, um Deus-relação. O que existe no interior da Trindade é uma eterna convivialidade de amor, tão essencial que permite falar de um único Deus Vivo cuja natureza é relacional. O teólogo Leonardo Boff afirma, no tom de uma poética inspiração, que, “no princípio não está a solidão do Uno, mas a comunhão dos Três”.
Nesse sentido, celebrar a Trindade é refletir sobre essa natureza relacional de Deus: “Deus é amor” (1Jo 4,8). Eis aí a grande revelação que Jesus nos trouxe: a essência de Deus é Amor em estado puro. Então, Deus não poderia fazer outra coisa senão amar. De fato, o amor não existe se não for em movimento, reciprocidade, alteridade, acolhida, relação e comunhão.
Santo Agostinho afirmou que no amor se encontram três realidades, que podem ser identificadas com as Três Pessoas Divinas: o Pai é o eterno Amor; o Filho, o eterno Amado; e o Espírito Santo, o eterno Amor. Desse modo, no seio da Trindade, há uma circulação eterna e infinita de amor, na qual o Amante, o Amado e o Amor se relacionam tão intensamente até “transbordar-se” na criação do universo. A Criação é o transbordamento do amor trinitário.
E o ser humano, que é a obra-prima da criação, foi feito “à imagem e semelhança” da Trindade. Daí o fato de sermos também seres de comunhão, de relação, capazes de dar e receber amor. É nesse ponto que o mistério da Trindade toca-nos profundamente, pois só vivemos quando “com-vivemos”. Nenhum ser humano consegue ser feliz fechado em si mesmo.
Portanto, sendo a Santíssima Trindade a mais perfeita comunidade, aqueles que abraçam esse mistério fundamental da fé cristã devem manifestar ao mundo a essência desse amor-comunidade cujos frutos são: serviço, doação, fraternidade, alteridade, harmonia. Quanto mais unidos somos, por causa do amor que circula em nós, mais nos parecemos com o Deus Trindade.
“Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu Amor em nós é perfeito” (1Jo 4,2).