Jornal Correio da Semana Nº 889 - 2

Monteiro Barbosa – seminaristalucas18@gmail.com
Desde que Maria Gomes de Oliveira, a famigerada Maria Bonita, passara a integrar o bando de seu grande amor Lampião em 1930, acompanhando-o até a morte do casal em 28 de julho de 1938, outras mulheres, a exemplo do casal real, também passaram a seguir seus respectivos parceiros no cangaço. Foram muitos os motivos, catalogados pelos pesquisadores, pelos quais muitas mulheres passaram a viver nas agruras do cangaço. Vida difícil para os homens, muito mais para as mulheres naquela sociedade pastoril e machista. Ainda assim, as cangaceiras foram um protótipo da mulher destemida dos sertões, sem perder sua doce feminilidade.
O cangaço é muito mais antigo que Lampião, mas nunca houve semelhante acontecimento, mulheres acompanhando os bandoleiros pelas caatingas. Muitos tinham suas esposas, amantes e namoradas, é bem verdade, mas nunca os acompanhando na vida errante do cangaço. Lampião chegou a ver de longe a marcha da coluna Prestes seguida pelas esposas e até filhos dos revoltosos, o que não era incomum no Brasil. Em tempos de guerra, o exército brasileiro tinha o costume de levar, à trás, as companheiras dos praças e oficiais.
Depois de algum tempo de paquera, na fazenda Malhada da Caiçara, depois que o bando bem reduzido de Lampião adentrou aos territórios baianos em 1928, Maria Bonita, que já era casada com o sapateiro Zé de Neném, seguiu àquele que há muito tempo ela aspirava conhecer. Maria se apaixonara primeiro pelo mito Lampião e o amor fora recíproco. Até meados de 1930, a jovem de vinte anos ficara reclusa em casa de coiteros de confiança do Rei do cangaço. A exemplo do chefe do bando, outros cangaceiros trouxeram suas parceiras para conviverem definitivamente com o bando; algumas, violentamente sequestradas, outras, vindo de espontânea vontade.
No cangaço, as mulheres não eram aquela espécie de amazonas, como muitos imaginam. Portavam revolveres apenas para autoproteção. Não cozinhavam, mas serviam as refeições (uma prática muito comum até nos dias atuais). Bordavam, se quisessem. Em geral, apenas se aformoseavam para seus companheiros. Era necessária muita coragem, mesmo àquelas que iam à contra gosto, mas nunca perderam sua graça feminina e, ao mesmo tempo, o jeito austero e forte da mulher nordestina “arretada”.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *