A quaresma e sua dimensão social

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editorial cs

Estamos inseridos no ciclo litúrgico da Paixão de Cristo. São 40 dias em que precisamos nos investir das armas da penitência cristã: oração, jejum e caridade. Esses aspectos precisam enriquecer a espiritualidade quaresmal tal como inspira a própria ambientação de nossas igrejas com a predominância do roxo que nos remete as arrependimento e à contrição.
Dentro da profunda espiritualidade dos dias quaresmais está uma dimensão intrinsecamente social. Seguindo os passos de Jesus, que foi um grande profeta, anunciador da justiça divina. Foi a sua opção pelos pobres e esquecidos de seu tempo que o levaram a ser condenado ao suplício da cruz.
Isso nos faz entender que a conversão para Deus nos leva a uma conversão para o próximo. Não podemos dizer que amamos a Deus se não amamos o próximo e esse amor é demonstrado por obras concretas quando estendemos a mão a quem mais sofre e buscamos promover o bem e a justiça social. Por mais que reflitamos pouco sobre tal dimensão, isso também é quaresma!
Daí o motivo pelo qual há quase 60 anos, a Igreja do Brasil promove a Campanha da Fraternidade, através da CNBB. Se a quaresma é tempo de refletir sobre os pecados, a CF nos permite, a cada ano, refletir e elaborar ações sobre um pecado social, seja no campo da saúde, da educação, do ambientalismo, da segurança e da busca pelo diálogo e pela paz, como nos pede a Campanha deste ano.
Desse modo, a quaresma bem vivida nos conduz à glória de Deus tanto pessoal quanto comunitariamente. A glória de Deus nada mais é que educação e saúde para todos, a difusão de uma culrura ecológica, uma sociedade justa e igualitária. A glória de Deus é o bem de todos.
Ao celebrarmos o mistério pascal da vida, morte e ressurreição de Jesus, também celebramos as alegrias e tristezas, mortes e sofrimentos do homem e da mulher de todos os tempos. É por isso que a quaresma deve nos conduzir a tocar as realidades pessoais, políticas, sociais e culturais. É a conversão para Deus e a conversão para o próximo caminhando juntas.
Contrapondo a muitas críticas, a Campanha da Fraternidade nunca deve tirar o foco da liturgia quaresmal , pois é um período de 40 dias que tem uma profunda dimensão social. Aqui cabe o bom senso cristão, pois as lutas sociais e o profetismo devem nascer de uma sincera comunhão pessoal com Deus e com a doutrina da Igreja. Caso contrário, o Evangelho deixa de ser a meta da vida eclesial.

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