Arte-educação: sensibilidade e compromisso
por Fátima Moura
Há exatos 98 anos aconteceu o movimento artístico-cultural de maior expressão nacional: A Semana da Arte Moderna. De 11 a 18 de fevereiro 1992, um elenco de artistas brasileiros atuantes nas artes plásticas, literatura e na música organizaram uma manifestação, no Teatro Municipal de São Paulo, para protestar contra o academismo europeu e apontar novas formas de expressão numa sociedade de turbulência política e social. Na época, artistas com destacada atuação na pintura, escultura, poesia, literatura, música, tais como Mário de Andrade, Plínio Salgado, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Victor Brecheret, Heitor Villa Lobos, Tarsila do Amaral, Di Cavalcante, encetaram o movimento que levou a elite intelectual e a acrítica especializada se manifestarem.
Mas aqui não pretendo me ater a esse trecho da história protagonizado pelos maiores expoentes da classe artística nacional, até por que o registro deste fato está muito bem expresso em diversos sites. Meu propósito aqui é de apenas falar do grau da importância da arte na vivência cultural de um povo. A arte é expressão da criatividade humana e pode refletir em todos os setores sociais, respondendo critérios estéticos e de comunicação.
Através da literatura você pode se posicionar politicamente sobre qualquer que seja o evento ou recorte social. As artes plásticas têm servido como instrumento de intervenções, protestos, manifestações de qualquer ordem política, social, cultural e folclórica. Mas será que os educadores encontraram o caminho ideal para desenvolver a sensibilidade do aluno e fazê-lo conceber arte como forma de comunicação, de expressão, de informação e de formação? O educador, neste contexto, assume o compromisso de desenvolver condições intelectuais propícias ao entendimento do aluno na esfera da criação artística e estabelecer links com o mundo que o cerca.
Ao longo dos anos, a arte é mal definida dentro do próprio sistema educacional, haja vista o desvelo com o qual se estrutura a disciplina Educação Artística ou Arte-Educação dentro das unidades de ensino. Não estou falando da arte como recurso pedagógico ou como incrementos para ilustrar aulas no dia a dia. Refiro-me à forma de como a disciplina Educação Artística é trabalhada. Às vezes são aulas teóricas bem desinteressantes; noutras ocasiões, se resumem em oficinas de artesanato, situação em que muitos alunos ficam de fora, porque nem todos são detentores desta aptidão e acabam não respondendo as expectativas da instituição.
Uma boa educação artística é aquela que instiga o aluno a se reconhecer parte integrante da sociedade através do conhecimento, do entendimento da expressão artística de seu povo. É ensinar o aluno a resgatar a história através dos traços arquitetônicos registrados nas fachadas dos prédios de sua cidade. É ensinar o aluno a enxergar recursos de artes visuais, nos outdoors, na TV e no cinema. Esses professores precisam ensinar que em tal seriado há um alto grau de interpretação cênica; devem apontar o quanto o apelo da violência e do sexo supera o teor artístico em alguns programas televisivos ou na internet.
No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelece que “o ensino da arte é componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. E que a “A arte é um patrimônio cultural da humanidade, e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber”.