Ary Albuquerque

UMA PRIMEIRA COMUNHÃO INUSITADA

Eu era menino. Tinha sete para oito anos de idade. Morava no interior, Iguatú. Cidade pobre, naquele tempo. Frequentava a catequese a fim de fazer a primeira comunhão. A freira piedosa nos ensinava com paciência o catecismo. Aprendíamos e éramos crentes nos ensinamentos recebidos. Acontece que a maioria dos pimpolhos, descendia da classe pobre. Seus pais não tinham dinheiro para comprar sapatos e nem roupa branca. Meu genitor, um ateu convicto, porém, muito humano, prontificou-se a comprar o brim e o morim para as roupas dos mais necessitados. E os sapatos? Como é que se resolveria esse problema? O pároco teve uma idéia luminosa, simplesmente, decretou: Todos de pés no chão, ricos, remediados e pobres. Não houve contestação, a voz do padre significa a voz de Deus. E foi assim que recebemos a primeira eucaristia, dando em exemplo de humildade e acima de tudo, companheirismo fraterno. Esse acontecimento foi há oitenta anos atrás. Será que existe um fato similar no mundo de hoje? Ou a evolução e a riqueza estratificaram as classes sociais de tal maneira que seria impossível admitir-se a existência de um exemplo igual?
Não vou dizer sim ou não, mas tenho minhas dúvidas.

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