Ary Albuquerque

O DRAMA DO “RISADINHA”

Seguiu a carreira artística. Desde criança que apresentava pendores. Era um menino alegre, cheio de presepadas. Fazia rir pelas suas atitudes inesperadas. Cresceu. Estudou. Tornou-se engenheiro para satisfazer a vontade do pai. Nunca exerceu a profissão. Entrou para a televisão. Em pouco tempo atingiu o estrelato. O seu programa “Noventa minutos de risos” tornou-se líder em audiência. Aparecia na televisão fantasiado de palhaço com o codinome de ‘’risadinha’’. Fez tanto sucesso na televisão que foi obrigado a fazer shows nos teatros. Sua vida mudou. Não parava. Fama, dinheiro e estresse. Vieram tudo junto.
Continuou. Não ligou. O sucesso obrigava-o a não parar. Foi acometido de uma violenta depressão. Pior. Parou de trabalhar. Procurou tratar-se. Escolheu os melhores médicos. Esteve internado nas melhores clínicas. Não deu jeito. Não ficou bom.
Um amigo íntimo indicou-lhe o doutor Vulpiano, especialista em depressão.
Seu método era infalível. Sua fama corria meio mundo. Marcou uma consulta. O consultório do Vulpiano era em Porto Alegre, cidade visitada por ele várias vezes com seu show, ‘’Noventa minutos de risos’’. No dia e hora aprazada estava frente á frente com Vulpiano. Houve, então, o seguinte diálogo:
– Já vi todos os exames que o senhor enviou por e-mail. Também examinei toda medicação que toma. Isso é muito fácil de curar.
Massari, riu de contentamento, pois, notou nas palavras do médico firmeza e competência.
Ao esboçar um leve sorriso Vulpiano notou que, tinha ganhado a confiança do seu cliente, aí continua a preleção:
– Você, meu caro Massari, foi acometido de uma depressão pelo excesso de trabalho. Essa doença chama-se Síndrome de Burnout ou Síndrome do esgotamento profissional. É um distúrbio emocional caracterizado por exaustão extrema, estresse e esgotamento físico e mental, decorrentes de um ambiente de trabalho desgastante, competitivo e que envolve muita responsabilidade.
Curei centenas de pacientes só com exercícios e atividades cognitivas.
Massari, o‘’risadinha’’, ficou radiante com as palavras proferidas pelo médico e agradeceu mentalmente, o seu amigo Carlos que indicou o psicólogo. Até aqui Vulpiano tinha acertado. Suas observações, claras e objetivas iam de encontro ao que ele pensava.
Então perguntou:
– Quais atividades cognitivas que o senhor vai passar para mim?
Vulpiano, sorriu levemente, fixou o olhar no seu cliente, e, falou:
-Antes de fazer atividades cognitivas tem que fazer exercícios e yoga.
Ai, sentenciou, com ênfase:
– Você falou que trabalhava na televisão, entretanto, não especificou o que faz. Então, deixe-me contar um segredo.
Tenho curado centenas de pacientes com essa indicação cognitiva. O riso é o melhor remédio contra todos os males, principalmente, contra depressão.
Vá ao teatro, assistir, ao vivo um show do seu colega…
Essas últimas palavras transformaram a fisionomia de Massari, dando alivio e conforto espiritual. Curioso, perguntou:
– Como é o nome do show, vou cumprir a risca seu conselho, falou e ficou aguardando o retorno de Vulpiano.
O médico, com o ar de vitória, exclamou:
– Vá assistir ao espetáculo teatral ‘’Noventa minutos de risos’’ com o impagável palhaço ‘’Risadinha’’.
Você vai rir á beça e isso lhe fará muito bem. Lá no teatro eles vendem um ‘’tape’’ que contém gravado mais shows do ‘’Risadinha’’ Você não chegará a terminar o ‘’tape’’ e estará curado!
Ao ouvir as palavras do médico sentiu um frio na barriga e seu semblante mudou. Com imensa tristeza, falou:
– Não posso doutor… e caiu em prantos!
– O doutor Vulpiano, entre perplexo e atordoado, inquiriu.
– Por que?
Enxugando com um lenço as lágrimas da face, respondeu:
– Porque, doutor, esse palhaço sou eu..

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