CF 2025 e a crise socioambiental

Dando continuidade às reflexões sobre a Campanha da Fraternidade (CF) 2025, cujo tema é “Fraternidade e Ecologia Integral”, queremos refletir sobre a atual crise socioambiental e sobre sua tomada de consciência por parte da Igreja e de toda a sociedade. Neste ano, a Quaresma será celebrada a partir deste convite especial de louvar a Deus pela beleza da Criação, abraçando o caminho de uma conversão ecológica.
A Igreja, sobretudo a partir da Encíclica do Papa Francisco Laudato Si’ abriu caminhos para uma nova reflexão mundial sobre a destruição desmedida do planeta. No referido documento, Francisco afirma que é preciso “reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente” (LS 15). Sem uma tomada de consciência de que é preciso mudar os rumos não se fará nada para efetivar a ecologia integral.
Um dos principais aspectos da raiz humana da crise socioambiental corresponde ao modelo de desenvolvimento capitalista. Este desencadeou o paradigma tecnocrático, no qual o poder da técnica está associado à posse, ao domínio, e à transformação de todos os recursos de que a natureza dispõe. O ser humano passa a enxergar tudo o que está fora de si como algo disponível para a manipulação. O que vale é extrair o máximo possível de todos os recursos!
A destruição das florestas, a queima de combustíveis fósseis, a expansão do consumo e a relação mercantilista com a natureza são algumas faces do paradigma tecnocrático. Acrescente-se a isso o antropocentrismo moderno, que fez com que o ser humano se desligasse do restante da criação. Alimentou-se a ilusão de que os bens da Terra eram infinitos e que o ser humano poderia progredir infinitamente em direção ao futuro.
A grande injustiça social e ecológica está na assimetria entre os maiores responsáveis e as maiores vítimas dessa crise. Os problemas são provocados pelos ricos, empresários e políticos, mas os impactos não são sentidos por eles. Os mais vulneráveis são os povos indígenas, as comunidades tradicionais e as populações de baixa renda.
Os nossos povos originários são grandes mestres na relação com a natureza. Desenvolveram ao longo de séculos uma sabedoria e um vínculo afetivo com a mãe terra. O modelo de desenvolvimento capitalista desligou o homem de si, dos outros, da natureza e do próprio Deus. É neste sentido que o pecado contra a criação é também um pecado contra o próprio Criador. Ele criou tudo em perfeita harmonia, colocou tudo em seu devido lugar e viu que tudo era bom.
Portanto, a CF é um meio de grande alcance eclesial e social para fazer com que todos despertem para a crise que estamos enfrentando. O cuidado da Casa Comum é um compromisso a ser abraçado por todas as culturas, igrejas e religiões.
O meio ambiente não é um “recurso” a ser explorado, mas sim uma “casa” que precisa ser habitável. Faz-se necessário, pois, mudar o modo de ser, de pensar e de agir a partir de um amor intrínseco ao Criador e à criação.



