Programação da festa São Francisco

Todo final de setembro, em Sobral é assim: os frades da Ordem Capuchinho a exemplo de Canindé, tratam logo de cuidar de todas as instalações da igreja para receber um expressivo número de fiéis, em especial, dos bairros periféricos e de municípios circunvizinhos para os nove dias da festa dedicada a São Francisco de Assis. Pintam limpam, ornamentam, iluminam, montam altar externo, colocam arquibancadas.
Há 60 anos, em Sobral, os missionários da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos difundem as mensagens de simplicidade, amor a Deus e ao próximo exemplificadas por São Francisco e Santa Clara. Para os católicos praticantes, é fácil saber as proveniência da maioria da multidão que lota as dependência do Santuário São Francisco, no período de 25 de setembro a 4 de outubro. É só olhar o jeito de falar, vestir-se e agir. São pessoas simples da cidade e do campo. Não é que os de classes mais abastadas não integrem este cenário religioso, é que o ambiente não comporta sofisticação, e os ricos que ali estão também se vestem com simplicidade e portam-se com discrição e humildade.
O fato é que a garantia de um expressivo contingente de participante desse mesmo evento, todos os anos, é a fé, a espiritualidade. Todos estão congregados numa corrente mística, na certeza de serem atendidos, acolhidos pelo santo protetor. Uns trazem nas orações agradecimentos; outros, pedidos, e outros tantos, as duas coisas. Como diz o filósofo Teilhard Chardin, “não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana”. Por isso uma programação dessa natureza não se esvazia. Ela é plena de significados, e, a cada ano, os votos de fé das pessoas são renovados. Diálogos simbólicos dos devotos de São Francisco são expressos no traje, nos pés descalços no marrom da roupa, na caminhada de joelhos ( da porta principal ao altar) e no fervor dos cânticos e da reza.
Os devotos de São Francisco já se acostumaram a lidar com a rotina do festejo com uma programação litúrgica com alvorada, novenas, procissão, missa, bênçãos e cerimônia de encerramento. Na mesma ocasião, ocorre também uma programação profana. Pois há arrecadação no comércio e nas residências de prendas para o leilão; são montadas barracas de venda de comidas típicas e de objetos religiosos, e são realizados sorteios e rifas. E isso movimenta a comunidade, fortalece os laços de convivência entre os fiéis.
Todos que se encontram na igreja, horas a fio, participando dos atos litúrgicos nos nove dias de festa, sabem que sua confiança em São Francisco está cada vez mais fortificada, revigorada. São homenagens dirigidas ao Santo que optou por uma vida de simplicidade, de abnegação, de altruísmo, deixando para trás os valores mundanos para seguir os passos de Jesus Cristo. Na verdade, o santo milagroso trata-se Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis, que foi frade da Itália e se tornou em um dos santos mais populares da Igreja Católica. Ele nasceu rico, filho de comerciantes abastados, e depois de uma juventude revolta e conturbada, ingressou numa vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, renovando o Catolicismo.
Com sua crença de que o Evangelho devia ser seguido à risca, desenvolveu uma profunda identificação com os problemas de seus semelhantes, São Francisco amou incondicionalmente o próximo, protegeu os animais e pregou o respeito à natureza. São atribuídas a ele frases que sintetizam seu espírito de solidariedade, humanidade e altruísmo tais como: “Tome cuidado com a vida, talvez seja o único evangelho que as pessoas leiam”. “Pregue o Evangelho em todo tempo, se necessário use palavras”. É por isso que a Festa de São Francisco não se esvazia.

Observação:
Semana passada, neste espaço, fiz um comentário sobre a importância de Dom José Tupinambá da Frota para a cidade de Sobral, no final de minhas considerações, afirmei ter sido ele o fundador da Rádio Tupinambá de Sobral. Peço desculpas aos leitores por ter me baseado em fontes não fidedignas. O fundador da referida rádio foi o padre José Palhano de Sabóia, braço direito de Dom José.

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