Como nuvem passageira é nossa vida

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Vez por outra somos surpreendidos com o mistério da morte de familiares, amigos e conhecidos. Subitamente, essa surpresa chega a nós, mesmo quando ela já é “esperada”. É diante dela que emerge o enigma da condição humana, sujeita à tantas fraquezas, sofrimentos e à finitude.
Para o cristianismo, tendo Deus assumido a carne humana, em seu Filho Jesus Cristo e tendo esse Deus Encarnado passado pela morte física, tal mistério adquire um outro sentido. Cremos que o ser humano está vocacionado à eternidade. Portanto, a vida não se resume ao tempo, curto ou prolongado, que passamos nesta dimensão da vida.
Assim, a morte e a ressrreição de Cristo faz-nos acreditar que no horizonte final do homem não está a morte, o fracasso, o nada ou a destruição. A nossa vida é como um rio que, mais cedo ou mais tarde, desemboca no mar infinito da eternidade. Neste mar, o homem é inundado pela comunhão divina.
O evento central da fé cristã, o mistério pascal de Cristo, recorda-nos que o algoz não triunfa sobre a vítima, a morte não prevalece sobre a vida. Assim como o Verbo eterno peregrinou pelo mundo e retornou a Deus, nós não peregrinamos sem rumo, pois peregrinamos em busca do Absoluto, da Eternidade, do Infinito de Deus. É por isso que o luto cristão é revestido de esperança.
Quando celebramos o Deus da Vida diante da morte de alguém recordamos que as coisas deste mundo não são a riqueza total, o todo da vida, mas são apenas um aperitivo do grande banquete que Deus prepara àqueles que são capazes de amar. Podemos imaginar a vida em Deus como um grande banquete, uma festa, uma comunhão, uma celebração de eterno louvor.
É isso que nos diz o profeta Isaías: “o senhor do Universo há de preparar para todos os povos um banquete de manjares suculentos (…). Ele destruirá a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lágrimas de todas as faces e fará desaparecer da terra inteira o opróbrio que pesa sobre o seu povo” (Is 25,6a.8).
Na última quarta-feira, Dom Vasconcelos, celebrando as exéquias de sua mãe, diante do caixão, falou emocionado: “Mamãe, eu sei que você gostou muito desta liturgia. Mas tudo isso é apenas uma sombra opaca do que a senhora verá no céu”. Acreditamos que a comunhão com Deus é algo tão belo e feliz que nada neste mundo se compara à liturgia celeste.
É lá onde Deus completará a criação de cada homem e de cada mulher, porque Deus nos criou para Si. E nós só estaremos completos quando estivermos em comunhão com Ele. A preparação para este dia, vivenciamos no cotidiano, sendo pessoas amorosas e lutando para vermos as pessoas felizes.
Bem expressou o Pe. Zezinho na canção “Exéquias”: Como nuvem passageira é nossa vida e não importa/ não importa nem dinheiro, nem poder/ feliz daquele que ao chegar aquela hora/ está sereno e preparado pra morrer. Prepara-se quem ama! Assim, a morte não é uma realidade tenebrosa e obscura. É uma realidade intrínseca à condição humana. É caminho para a vida plena, para a festa divina que Deus prepara para aqueles que amam como Jesus amandou amar!

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