De Olho na Lingua
FUTEBOL: PLACAR DE 6 X 5 É GOLEADA?
Goleada é uma vitória por diferença igual ou superior a três gols. Por exemplo, quando o Santos vence o São Paulo por 4 a 1. Outro exemplo, quando o Palmeiras vence o Corinthians por 4 a 1; quando o Palmeiras é derrotado pelo Vitória por 2 a 7. Mas uma vitória por 4 a 3 do Corinthians não é goleada, nem uma de 5 a 4.
Muitos jornalistas esportivos pensam que goleada é a feitura de muitos gois numa partida, independentemente da diferença no placar. Está certo que pensar não ofende, mas que aborrece, ah! isso aborrece! A goleada, senhores jornalistas esportivos, está na diferença, e não na quantidade.
CORRER ATRÁS DO PREJUÍZO
É outra grande criação do jornalismo esportivo brasileiro. Quando uma equipe está perdendo o jogo, diz-se que os jogadores têm de correr atrás do prejuízo. Se todos podem correr atrás do prejuízo, vencedores preferem correr atrás da vantagem, do lucro. Creio serem mais inteligentes. Se se deseja usar a palavra prejuízo, sugiro “inverter o prejuízo”: O time tomou três gols em 20 minutos e agora terá de inverter o prejuízo.
UMA PARTIDA DE FUTEBOL (OU OUTROS EVENTOS) PODE SER TRANSMITIDA NA MADRUGADA DE “SÁBADO PARA DOMINGO”?
Vamos ao calepino para sabermos o que é, de fato, madrugada: período de tempo compreendido entre zero hora e o alvorecer. Ora, se assim é, uma partida de futebol, ou qualquer outra coisa, só pode ser realizada na madrugada de domingo. Não existe madrugada de “sábado para domingo”, na madrugada de “segunda para terça”. Ou melhor: existe, mas é uma expressa de absoluta exclusividade da mídia esportiva.
JOGAR DE GOLEIRO (VALE?)
É construção da língua italiana, mas profundamente arraigada no Português do Brasil. Entre nós, de fato, ninguém joga como goleiro, como centroavante, como zagueiro, como fazem os portugueses. Todo mundo joga por aqui mesmo é de goleiro, de centroavante, de zagueiro.
FUTEBOL E VOLEIBOL TÊM PLURAL?
Têm: Futebóis e voleibóis. Daí que podemos usar, sem problema nenhum: O Brasil pratica um dos melhores futebóis e voleibóis do mundo.
“JUIZ” PODE DAR TRÊS MINUTOS DE “ACRÉSCIMOS” NUM JOGO DE FUTEBOL?
Há narradores esportivos por aí que tratam os árbitros de “juízes” e – muito mais – nos informam que o homem do apito dará três minutos de “acréscimos”, quando a locução é francamente invariável, assim como todas as locuções existentes em Português. Eles mal sabem o que é locução, como vamos deles, então, esperar o uso correto delas? Pretensão tola.
A verdade é que, quando assistimos a um jogo de futebol, estamos fadados a ver caneladas e a ouvir batatadas (erros) durante o tempo todo. E saber que, para falar tantas asnices prestando verdadeiro desserviço à educação, essa gente ganha muitos milhares de vezes o que percebe um professor universitário em final de carreira! Eita, Brasil!
REVERTER O QUADRO
A frase em epígrafe está na moda. Médicos, economistas, tecnocratas de todas as áreas e principalmente cronistas esportivos estão a inventar uma língua própria: A asinina. Entre tantas asnices que se notam em linguagem desses profissionais, salienta-se o emprego do verbo “reverter” por “inverter”: É preciso reverter o quadro da economia brasileira (Em vez de: É preciso inverter o quadro da economia brasileira); O prefeito não soube reverter o escândalo a seu favor (Em vez de: O prefeito não soube inverter…); A reversão desse quadro é difícil (Em vez de: A inversão desse quadro é difícil).
(*) Graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Contatos: (88) 99373-7724.