Drogas: muitos problemas e pouca solução
por Fátima Moura
Trabalhei por mais de 10 anos na educação (oito como professora e mais de dois, como diretora) e um dos piores obstáculos que encontrei foi o uso de drogas dentro das escolas. Os gestores, de maneira geral, faziam vistas grossas, não permitiam debate sobre o assunto, sequer um comentário. Era uma espécie de tabu, Tudo errado! Acho até que a coisa piorou muito por conta deste posicionamento quase generalizado na educação, para fingir que estava tudo bem, para não encarar o problema, para não sair mal na foto, para não admitir o próprio fracasso. Ali permeava um descabido receio de ser tachado de incompetente. Não se trata de incompetência, meus amigos, é impossibilidade. É impossível solucionar um problema desta dimensão se fechando numa cápsula. O combate às drogas é trabalho árduo. A tarefa tem que começar com políticas públicas na área da Saúde, Educação e Assistência Social e Segurança Pública.
Primeiro de tudo, há anos, os danos causados pelo uso das drogas se irradiam por todos os setores da sociedade e os governantes têm empurrado com a barriga, até a situação explodir. O que vivenciamos nas escolas se repete hoje em qualquer ambiente. E isto é o resultado da pura negligência governamental. Engana-se quem pensa que drogas são somente aqueles velhos produtos informados pela mídia. Há uma extensa lista dessas substâncias nocivas disponíveis no mercado: tabaco, álcool, cocaína, maconha, crack, solventes, heroína, ecstasy, tranquilizantes benzodiazepínicos, esteroides anabolizantes, sedativos, barbitúricos, estimulantes anfetamínicos, analgésicos opiáceos, anticolinérgicos, LSD, quetamina, chá de ayahuasca e drogas injetáveis. Droga é toda e qualquer substância capaz de alterar as funções fisiológicas ou psicológicas de uma pessoa. Por isso dissemos que a comercialização de substâncias é o empreendimento do mal.
Numa pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com o IBGE, o Instituto Nacional de Câncer e a Universidade de Princeton, nos EUA, entre maio e outubro de 2015, foram entrevistadas quase 17 mil pessoas, com idades entre 12 e 65 anos, em todo o Brasil, com foco no aspecto epidemiológicos do uso de drogas. Entre as drogas ilícitas, a maconha é a mais consumida: 7,7% dos brasileiros já a usaram ao menos uma vez na vida. Em segundo lugar, fica a cocaína em pó com 3,1% de consumidores. Cerca de 1,4 milhão de pessoas na mesma faixa etária relataram ter feito uso de crack e similares, o que corresponde ao índice 0,9% da população pesquisada. A única constatação positiva deste levantamento é que o consumo do fumo caiu em relação a outras drogas lícitas. Mas só a difusão desses dados não resolve o problema. É preciso a implementar medidas eficazes de prevenção e combate ás drogas.
Enquanto os meios de comunicação noticiam, promovem debates, cobram medidas aos competentes, os governantes, nas instâncias federal, estadual e municipal, continuam inertes. A Polícia Federal não consegue estancar o tráfico de entorpecentes nas fronteiras do País nem impedir a importação de armas que potencializam as organizações criminosas. O policiamento das ruas também não é efetivo, a Justiça não pune com rigor os responsáveis pelos pontos de venda destas substâncias, haja vista, a permanência da cracolândia no centro de São Paulo. E o cidadão, no meio desta história toda, leva uma vida com limites impostos pelo medo e a insegurança, num ambiente transpassado pela insalubridade física, psicológica e sociológica. Não sabemos quem irá cuidar desta legião de afetados pelo descaso, já que violência urbana é filha natural do tráfico e uso de drogas. Quem assalta quer dinheiro para financiar o vício, quem arromba agências bancárias e ataca carros fortes quer muito dinheiro para suprir a logística da ação de produzir, refinar e traficar toneladas de drogas. O cenário está extremamente favorável aos mentores das grandes organizações criminosas, dentro e de fora do País.
O efeito deste sistema se reflete no nosso dia a dia onde quer que estejamos. Em qualquer lugar, podemos ser surpreendidos com uma arma apontada em nossa direção por alguém em dívida com traficante: no ônibus, na rua, nos locais de lazer, na praça, nos postos de saúde, dentro do carro, dentro de nossa casa. Não há lugar seguro. Só nos resta integrar uma sociedade extremamente enferma e esperar por um remédio, que até existe, o problema é a falta de um diagnostico preciso, um acerto na dosagem e no tempo. Olhem aí, autoridades!