Eriberto Ximenes, Groairense construtor de catedrais

A Fé como Obra e Construção Eterna no Sertão de Groaíras no Ceará
Por Domingos Pascoal
Na paisagem quente e terrosa do sertão cearense, onde o silêncio das pedras e a sombra dos mofumbos guardam a memória dos que partiram e a esperança dos que ficaram, um homem ousa levantar, com suas próprias mãos, um santuário. Não por vaidade. Não por glória. Mas por gratidão ao chão que o gerou.
Eriberto Ximenes Albuquerque, o eterno Ximeninho, é mais que um DJ lendário das noites da Urca, mais que um empresário ousado ou artista plural. Ele é, acima de tudo, um visionário de alma medieval desses raros que constroem não para si, mas para o tempo.
Como os antigos mestres que erguiam catedrais sabendo que talvez jamais veriam sua obra concluída, Ximeninho trabalha com alegria. Planta pedras como quem semeia frutos que apenas os netos do tempo colherão. Crê no legado, não no aplauso. Na permanência do sagrado, não na pressa do mundo.
O Santuário do Sagrado Coração de Jesus dos Santos do Fim dos Tempos, que ele levanta em Pirapora, Groaíras, no interior do Ceará, não é apenas uma construção. É um gesto. Um altar vivo. Uma carta de amor ao Nordeste, escrita com pedra, suor, memória e fé.
Cada escultura, cada jardim, cada símbolo ali presentes é mais do que adorno: é liturgia. Uma afirmação da eternidade possível quando a arte se mistura com o sagrado. Ali, na catedral sertaneja, Deus fala através dos detalhes, e o povo reencontra sua própria história. A paisagem se ajoelha. A terra se curva. A fé se ergue.
Mas esse solo não é novo na arte de gerar diletantes e heróis. Ironia da história: a apenas dois quilômetros dali, nasceu outro construtor de catedrais invisíveis não de pedra, mas de liberdade. Falo de Padre Gonçalo Ignácio de Loiola Albuquerque Mello, o bravo Padre Mororó, ancestral de Ximeninho e mártir da Confederação do Equador, executado no patíbulo do Império por sonhar um Brasil justo e republicano.
Como Ximeninho, Mororó era um homem de fé que ousou imaginar uma pátria mais livre, mais humana. Não construiu templos, mas tombou como quem sela com o próprio sangue o alicerce de uma nova nação. Se Ximeninho empilha pedras em forma de devoção, Mororó as enfrentou em forma de barricada. Ambos são filhos da mesma terra e do mesmo sonho. Ambos são diletantes construtores de catedrais uma visível, outra eterna.
E não para por aí. A apenas 5 quilômetros adiante, da construção do Santuário, no velho Itamaracá, nasceu Raimundo Nonato Ximenes: o eterno Dr. Ximenes, jornalista por mais de seis décadas, correspondente fiel de Groaíras nos jornais da capital. Foi combatente da Segunda Guerra Mundial, cronista da vida e da memória cearense, ele também um construtor de catedrais, fundador do bairro Montese e igrejas em Fortaleza, e no Itamaracá. Uma voz alegre de um tempo inteiro. Quando o reencontravam pelas ruas, bastava ele soltar seu bordão, com os braços abertos como se abraçasse o mundo:
“Ô vida boa!”
Três Ximenes. Três tempos. Três catedrais:
– Mororó, o altar do sacrifício pela liberdade;
– Dr. Ximenes, a torre da memória e da palavra;
– Ximeninho, a nave de pedra viva onde a fé se constrói com as mãos.
Nas redes sociais, Ximeninho mistura humor, crítica e espiritualidade como quem sabe que só os livres de espírito fazem o mundo girar. Seus vídeos são catecismos de irreverência, suas postagens, pequenos evangelhos da liberdade.
“Não sou normal e agradeço por isso”, diz ele com um sorriso que carrega mil carnavais e um retiro monástico ao mesmo tempo.
Concordamos contigo, valoroso conterrâneo. Graças a Deus, você não é normal você é um diletante criador de sonhos! E, cá pra nós: o mundo não deve nada aos normais. Os normais não inventam. Não desafiam. Não edificam. Os normais só repetem. E criticam.
Celebramos hoje o anormal abençoado que você é. Um homem que não se limita ao que pode ser terminado. Alguém que faz porque crê, constrói porque ama, retorna porque entende que a eternidade começa no berço.
Eriberto Ximenes é um patrimônio afetivo do Brasil profundo. Um groairense que transformou sua volta em revolução.
Um homem que nos lembra que a fé verdadeira é sempre uma obra inacabada e, por isso mesmo, infinita.
Porque nem todo templo tem telhado, mas todo gesto de amor constrói uma morada de Deus



