Evangelizar é Inovar, é Incluir: Fidelidade Criativa na Missão da Igreja

Evangelizar é um tema central da Igreja e encontramos de maneira mais profunda nos documentos do Concílio Vaticano II. O Concílio, realizado entre 1962 e 1965, renovou a compreensão da missão evangelizadora da Igreja, reafirmando sua responsabilidade de anunciar o Evangelho a todas as pessoas, em todos os tempos e lugares. Vários documentos abordam o tema da evangelização:
A Constituição Dogmática Lumen Gentium (sobre a Igreja), diz que a Igreja é apresentada como “sacramento universal da salvação” (LG 48), sendo chamada a anunciar Cristo como luz das nações (daí o nome Lumen Gentium, “Luz dos Povos”); Na evangelização os ministros e também “Os leigos são convocados a participar ativamente da missão evangelizadora, não apenas no interior da Igreja, mas também no mundo secular” (LG 33-36).
O Decreto Ad Gentes (Sobre a atividade missionária da Igreja), é o documento mais diretamente dedicado à evangelização: Evangelização como missão ad gentes (aos povos), no qual enfatiza o dever da Igreja de levar o Evangelho aos que ainda não conhecem Cristo (AG 1-2); Elementos da evangelização: Inclui o testemunho de vida cristã, a pregação explícita do Evangelho, a catequese, a formação da comunidade cristã e os sacramentos (AG 6, 13); e o Respeito às culturas locais, onde reconhece a necessidade de inculturação, ou seja, a adaptação do Evangelho às culturas locais sem perder sua essência (AG 22).
Na Constituição Pastoral Gaudium et Spes (Sobre a Igreja no mundo contemporâneo), a Evangelização no diálogo com o mundo moderno, a Igreja é chamada a dialogar com a cultura contemporânea, respondendo aos “sinais dos tempos” com uma presença viva do Evangelho (GS 4, 44); Testemunho cristão na sociedade, onde o anúncio do Evangelho deve estar acompanhado por ações concretas de justiça, paz e solidariedade com os pobres e oprimidos (GS 27-39).
Então, o Concílio Vaticano II entende evangelizar como: testemunhar e anunciar Jesus Cristo com palavras e ações; alcançar todas as culturas e povos, respeitando sua identidade; ser uma tarefa de todo o povo de Deus, não só do clero e relacionar-se com os desafios do mundo contemporâneo.
A inovação e a inclusão a partir do Evangelho podem acontecer de forma profunda e transformadora quando se compreende o Evangelho não apenas como um conjunto de doutrinas, mas como uma força viva de amor, justiça e comunhão.
O Evangelho é imutável em sua essência — o amor de Deus revelado em Jesus Cristo — mas a forma como ele é comunicado e vivido pode (e deve) ser constantemente renovada, ou seja, somos templo do Espírito Santo. “Que há de comum entre o templo de Deus e os ídolos? Ora, nós é que somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus: Em meio a eles habitarei e caminharei, serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” Icor 6, 16.
A nova linguagem e os meios, como por exemplo, o uso de mídias digitais, redes sociais, artes, música, cultura urbana, etc. A pastoral criativa e proativa com criação de novas formas de evangelização, como missões urbanas, igreja em saída, grupos de escuta, etc. As respostas aos desafios modernos de acordo com a bioética, meio ambiente, economia solidária, inteligência artificial, etc., sempre a partir da luz do Evangelho. “É necessário evangelizar não de maneira decorativa, como se se tratasse de um verniz superficial, mas de modo vital, em profundidade e até às raízes” (Evangelii Nuntiandi, n. 20).
Devemos entender e compreender que inovar com base no Evangelho não significa mudar sua essência, mas atualizar sua linguagem e métodos de anúncio com a evangelização digital, redes sociais, arte, música contemporânea, etc. Desenvolver novas formas de ação pastoral e missionária através das comunidades inclusivas, pastorais sociais, iniciativas ecumênicas e inter-religiosas. Inovação evangélica é sempre fiel à Verdade de Cristo e sensível aos “sinais dos tempos” (cf. Gaudium et Spes, 4).
Cristo veio para todos, e o Evangelho é, por essência, inclusivo: Jesus rompeu com barreiras sociais, religiosas e culturais, acolhendo pobres, doentes, mulheres, estrangeiros e pecadores. O Evangelho afirma que todos são filhos de Deus e portadores de dignidade. Inspirada em Jesus, a Igreja é chamada a acolher os marginalizados (Lc 4,18; Mt 25,31-46). Também o documento de Aparecida reflete sobre esta grande ação. “Esta opção — que não é exclusiva nem excludente — deve permear todas as estruturas pastorais da Igreja e todos os planos de evangelização.”
(DAp 396) Não se trata de política partidária, mas de fidelidade ao Evangelho. A opção pelos pobres deve tocar todas as áreas da vida eclesial: liturgia, catequese, missão, economia, etc. Deve ser uma acolhida real e não apenas teórica. As comunidades cristãs devem ser lugares onde todos se sintam em casa: migrantes, pessoas com deficiência, povos indígenas, minorias, etc., sempre com caridade e verdade. “O Evangelho exige de todos nós que não excluamos ninguém, que saibamos superar preconceitos e fronteiras” (Papa Francisco, Fratelli Tutti, n. 83).
O Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência é um importante instrumento de campanha da cidadania e também da inclusão social. Trata-se de um espaço para participação que facilita a comunicação e representação sociedade civil para com o poder público, garantindo assim que as demandas específicas das pessoas com deficiência sejam ouvidas, debatidas e transformadas em políticas públicas efetivas.
A atuação do Conselho é essencial para garantir que os direitos conquistados por meio de legislações nacionais, como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), sejam efetivamente cumpridos na realidade local. Muitas vezes, a distância entre as leis e a prática está na falta de fiscalização, de recursos ou de vontade política. Sendo assim, o Conselho empenha não apenas uma função de consultoria, mas também de fiscalizadora e contribuindo com propostas para que os projetos do município sejam pensados também visando acessibilidade e equidade para todos.
A importância desse conselho se torna ainda mais clara perante as inúmeras problemáticas enfrentadas, dia após dia, pelas pessoas com deficiência. A falta de acessibilidade nas ruas, no transporte público e nos prédios públicos limita a mobilidade e compromete o direito de ir e vir. A exclusão na educação, muitas vezes disfarçada pelo despreparo das instituições escolares, mostra uma organização que ainda não está preparada para aceitar todas as diferenças.
É nesse cenário desafiador que o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência assume um papel ainda mais relevante. Ele se torna não apenas um espaço para pronunciamento e escuta, mas uma forma de reivindicação de direitos e de busca por soluções. É necessário promover a conscientização e o conhecimento sobre o papel fundamental do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência, abordando temas como a legislação vigente, sua criação, as ações do conselho e a importância da participação ativa da sociedade na construção de um ambiente inclusivo, capacitando os participantes sobre a importância desse órgão, estimular o engajamento da comunidade e fortalecer a rede de apoio às pessoas com deficiência, promovendo uma reflexão sobre as práticas de inclusão e afetividade das práticas públicas no município.
A inovação cristã não é ruptura com a fé, mas fidelidade criativa ao Espírito que impulsiona a Igreja a se renovar para alcançar todos. A inclusão não é relativismo, mas expressão autêntica do amor de Cristo, que nos chama a acolher a todos, especialmente os que mais sofrem.
Por Pe. Edinardo Gomes, Jonas Brandão e Isaac Sousa
(Projeto de Extensão vinculado à disciplina de UCE, ministrada pela Prof.ª Nice Bonnet, do curso de Administração do Centro Universitário INTA – UNINTA)



