Favela no campo é o fim

Os sistemas de favelas só funcionam nas grandes cidades. Mentira, pois conheço uma favela com todos os percalços sociais, encravada no meio das montanhas da Serra da Meruoca, bem ali no distrito de São Francisco. Favela sim, doa a quem doer.
A história desta vila foi seguinte: havia uma família (Ripardo) proprietária de boa parte das terras do distrito. No final dos anos de 1940, grande parte destas terras já havia sido divida e vendida para as famílias Ferreira Gomes, Rangel, Randal, Frota, Barbosa Paula Pessoa, Melo entre outras.
Após este retalhamento, uma senhora muito religiosa veio e construiu uma capelinha de Cristo Rei. Em seguida, um descendente da família Ripardo (Francisco Andelmo) abriu uma casa de comércio, na verdade, uma mistura de mercearia, ponto de compra e melhoramento de chapéu de palha, compra de castanha de caju, coco babaçu, além da criação e abate de animais (bovino, suíno e ovino), para suprir a demanda da população local e a de veraneio. Nesta época, as famílias menos abastadas moravam de agregados em rústicas casas de taipa nos sítios e tinham os donos como patrões.
Na década de 1970, São Francisco já era alvo de cobiça para candidatos a prefeito e vereador. E seu Andelmo, já instalado ali como comerciante e agropecuarista, servia de referência para os eventos de qualquer ordem na localidade. Depois dessa época, a maior reclamação dos moradores era a falta de uma casinha de alvenaria que eles pudessem chamar de sua. Os políticos, de olho neste expressivo contingente eleitoral salpicado pelas encostas da localidade, começaram a fazer permutas bem rentáveis para si, pois o resultado era bastante positivo nas urnas. “Vote em mim que lhe dou uma casinha de tijolo na rua”,diziam eles. A rua, um pequeno indício da favela que hoje se transformou.
Agora, para não dizer que estou inventado, vá lá e veja. Muitas pessoas provindas de várias localidades se misturam às da sede São Francisco e se concentram em vielas mal projetas, sem as mínimas condições sanitárias. O acúmulo do lixo é o cartão postal da entrada da pracinha principal. Um vasilhame repleto e lixo. E mais lixo espalhado pelos arredores por ação de catadores, de urubus, cachorros, gatos e galinha. Um fedor instalado na beira da via principal, uma nuvem de moscas que invade as casas mais próximas. Esses indesejáveis resíduos esperam por dias pela coleta da Prefeitura que deveria ser diária.
Quando chamo estes arruados de favelas não é que eu queira depreciar a comunidade, pelo contrário, eu gostaria que a população partilhasse a ordem, a organização, os bons costumes, o conforto. Mas é só olhar, o vilarejo incha naquela localidade enquanto os serviços de infraestrururas engatinham. Este nível de mentalidade das autoridades parece subsidiar maus hábitos, ações antissociais destas populações que cortam cerca de sítios vivinhos, constroem em terrenos que não lhes pertencem, desviam bueiros e fossas para os terras com cultivo de frutas. E se organizam para perpetrar tais delitos com muita naturalidade.
Sei também que este tipo se organização dentro das comunidades rende votos para políticos. É por isso que eles não se interessam em resolver o problema. Enquanto um número expressivo se une por uma causa injusta, o candidato vai lá toma o partido da maioria e lhe cobre de razão, pensando nas eleições.



