Maria Beatriz Rosário de Alcântara, a escritora Beatriz Alcântara, querida amiga e festejada intelectual cearense, lançou, em dezembro último, o livro “LUA em DESCOMPASSO”, capa artisticamente preparada, edição primorosa. Característica comum em seus livros, não tem prefácio, nem apresentação ou posfácio. Dedicado a Lúcio Alcântara, marido de Beatriz, a quem diz: “sempre, ainda e sobretudo na busca da ‘palavra’ exata”, o livro é iniciado com poesia e poesia das boas. Antes de cada “caderno”, digamos assim, de poesia, a autora faz citações, iniciadas pela “melodia sentimental”, de Villa-Lobos.
A poeta (ou poetisa?, não sei, mas, poeta ou poetisa, compõe poesia e poesia é o que move a vida e penso que poesia não tem gênero algum) define o título de sua obra dando voz à Lua(r) em Descompasso: “Gosto, às vezes, de sorrir/ de mim mesma,/ muito sozinha/ madrugada tardia e/ espreitar a lua ao luar,/ distante de todo enlevo,/ sem verdades lisas e cruas,/ tudo avesso ao pensamento longo,/ demorado, que não se sabe onde vai chegar./ Súbito, vem aquela vontade de fazer um pedido/ com meiguice: tem um chocolate de leite para mim?”. E a noite segue escura, “Do céu cerrado sem estrelas./ piado de coruja chama/ lua nova, noite soturna,/ cipreste sombrio,/ nada tem luz para se olhar…”.
E as dúvidas e incertezas do “Por Isso ou Aquilo”, chegam ao texto: “Daquilo e disso/ herdamos muito mais/ do que temos ideia./ Pensamos ser estranhos…”, mas, “Muito vai além do que acreditamos/ serem revelações entre suposições”. “Por isso ou aquilo, o tempo dança,/ eu danço e, na família, fica a herança”. E “Indo e vindo”, “Vivo a divagar por tudo que fui/ e nem pensava que queria,/ assim, complexa e indivisível/ num devanear de lua cheia,/ alma sôfrega, saudade e ternura”. A vidraça, ah a vidraça… “Vidraça, olhar de mistério/ e segredos, vem me contar…/ Vamos, janela, faz de conta…”.
A pátria-mater brasiliensis Portugal é presente não só na vida de Beatriz, visto que seus pais são portugueses e ela fora lá educada, embora nascida no Ceará, mas, na obra que lemos. Vale lembrar um trecho da mini-autobiografia que ela tece na orelha do livro, “… vim de férias ao Ceará, onde, em menos de quinze dias, decidi permanecer. A liberdade de expressão, a toância da música, a alegria em tudo presente, as praias de mar verde e o calor ameno, criaram em mim a certeza de um elo encantatório para sempre”. E assim, vez por outra, cenas portuguesas aportam na Lua em Descompasso. E Rachel de Queiroz e Artur Eduardo Benevides, poderia dizer meus padrinhos literários, são citados por Beatriz. De Rachel cita trecho d’As Três Marias, de uma, Rachel, ela fora amiga; de outra, Alba Frota, ela fora aluna. E Artur foi seu Mestre, o homem da “Pacatuba, Pacatuba, bá…”. E os idiomas inglês e francês se juntam nesse descompasso da lua e velhas amizades, dias de juventude e de ternura são lembrados.
Artur Eduardo Benevides abre caminhos para Iracema, a mãe romantizada dos cearenses, mas, temos também Canindé, fotos de viagem e Fortaleza. E, POESIA… que “existe/ porque a vida não basta!”, como dizia o Mestre Gullar, aqui citado.
Parabéns, Beatriz Alcântara, com iniciais literalmente maiúsculas!

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