Lucas Monteiro Barbosa
seminaristalucas18@gmail.com

Numa entrevista feita ao programa Proposta, na TV Cultura, em 1972, Luiz Gonzaga usou uma velha máxima: “filho só puxa ao pai quando é cego”. O Rei do baião discordava frontalmente deste adágio popular quando o assunto era seu pai, o velho Januário. Luiz Gonzaga não fora o inventor do forró e suas ramificações, ele apenas, com Humberto Teixeira, o “urbanizou” e o propalou como ninguém o fizera, nem nos dias atuais. A prova disso é a influência que Luiz Gonzaga teve de seu pai, decantado em várias canções. Januário, o “vovô do baião”, tem sua importância ímpar na história nordestina, não só como pai e influência de Luiz Gonzaga, mas também como um incomparável sanfoneiro de oito baixos. Seu filho, irrefutavelmente, é um dos alicerces nordestinos e considerado – não à toa – o maior nordestino de todos os tempos, mas Januário também deixou sua marca nos anais do Nordeste.
Nascido em Floresta – PE, a 25 de setembro de 1888, José Januário dos Santos se mudou para Exu, não se sabe ao certo em que ano ou circunstâncias, mas lá, junto com sua esposa, Ana Batista de Jesus, a Dona Santana, criou, humilde e dignamente, seus filhos, dentre os quais, Luiz Gonzaga dos Santos, o Rei do Baião, que, ainda criança, aprendera com o pai a arte de tocar a sanfona de oito baixos, o instrumento mais comum à época.
Como bem diz a célebre canção: “de Taboca à Rancharia, de Salgueiro à Bodocó, Januário é o maior”, Januário era um respeitado e famigerado tocador em toda região do Araripe ao Cariri, já no Ceará. Além da habilidade com o fole de oito baixos, Januário, como exímio conhecedor do instrumento, também ganhava a vida concertando foles. Possuía uma oficina em casa, onde, diariamente, se ocupava com o concerto de sanfonas, desmontando-as para sanar os defeitos e, logo após remontá-las, afinava-as “puxando o fole”. Fora nestes concertos caseiros que Luiz Gonzaga aprendera a tocar. Nos muitos bailes da região, animados por Januário, Luiz, já adolescente, o acompanhava e, já um tanto hábil com o fole, substituía rapidamente o pai, enquanto este descansava.
Atendendo aos ditames morais sertanejos da época, Januário sempre fora um pai austero, cumprindo com o papel de educador de seus filhos. Homem honrado, ilibado e, portanto, bem conceituado, não somente pelo seu talento como músico, mas como homem de uma idoneidade notória. Também castigara Luiz em 1930 com a famosa “pisa” que encorajara o menino a fugir de casa, voltando dezesseis anos depois, já com fama no Rio de Janeiro. Esta história rendera ao Rei do baião a inspiração que ensejara na Respeita Januário, uma das canções mais distintas de Luiz Gonzaga, na qual, além de cantar, Gonzagão conta a história da fuga de casa e o retorno dezesseis anos depois, destacando a figura de seu pai.
O velho Januário falecera em 11 de junho de 1978, exatamente dezoito anos da morte de sua esposa, dona Santana. Ambos sepultados no mesmo túmulo em Exu. Luiz Gonzaga sempre se inspirara em seu pai, como músico e ser humano. Januário está eternizado e elencado na inenarrável obra de seu filho. Graças a Luiz, Januário fora apresentado ao mundo não somente como personagem da célebre canção, mas também como exímio sanfoneiro que era registrado em gravação pela Rádio Tupi em 1952, onde o Vovô do Baião exibiu e mostrou todo seu talento ao lado de Luiz Gonzaga e outros de seus talentosos filhos, frutos da criação do exemplo de pai que fora o velho Januário.
O velho Januário e seu filho, Luiz Gonzaga.

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