Monsenhor Nel; um baluarte esquecido

Monteiro Barbosa – Seminaristalucas18@gmail.com
Em Massapê – CE, pouco se fala, especialmente no meio da juventude, mas em uma boa e fecunda conversa com os mais antigos, certamente suscita-se o sublime nome e se obtém boas lembranças do monsenhor Manoel Henriques de Araújo, o saudoso monsenhor Nel. Embora não tenha sido um massapeense nativo, mas faz, imprescindivelmente, parte da história de todo o município, sendo uma das mais icônicas figuras de Massapê, cuja religiosidade, majoritariamente católica, é um peremptório alicerce da cultura e história de seu povo.
Nascido em Meruoca – CE, no sítio São Rafael, a 10 de dezembro 1897, é filho de Rafael Henriques de Araújo e de Ana da Costa Araújo. Foi ordenado sacerdote em Sobral por Dom José a 07 de fevereiro de 1927. Formado aos moldes do seminário da Prainha em Fortaleza, recebendo uma austera, porém profícua formação integral, o que lhe garantiu, durante toda sua vida, a reputação de homem ilibado, sério e, ao mesmo tempo, de uma leniência ímpar, sobretudo para com as crianças. Assumira a paróquia de sua terra natal em 1928 e sendo provisionado encarregado de Coreaú até 1930. Neste ínterim, também fora professor no seminário e colaborador no jornal Correio da Semana. Chegara a Massapê em 1949, onde fora empossado vigário a 11 de janeiro, quando o orago da cidade ainda era Santa Úrsula. Foi aí onde exerceu maior parte de seu ministério sacerdotal.
Algumas das principais características coletadas sobre monsenhor Nel em Massapê são: a austeridade litúrgica e o moralismo com os quais ele pastoreou seu povo. Homem de uma seriedade incomparável, o padre Nel costumava ser irredutível quanto à atenção que prestava nas reuniões do clero, anotando, com muito interesse, todas as considerações dos palestrantes. Foram muitas as broncas que as moças massapeenses receberam do monsenhor quando não iam à missa conforme os padrões exigidos na época. Saia e mangas longas, luvas e véu. Costumava chamar as mulheres que iam às celebrações com mangas curtas de “mulheres desmangadas”.
Não obstante, fora um exemplo de caridade, doando cestas básicas para as famílias mais carentes. Também costumava ser afável com todas as crianças, pousando-as em seu colo para ensiná-las as virtudes cristãs. Fora o responsável pela necessária demolição da antiga matriz em 1962 pelo risco de desabamento da mesma. Boa parte da planta do atual suntuoso templo fora feita na Itália por um amigo do monsenhor. Infelizmente não viu a inauguração do novo templo. Devido sua idade já provecta, fora substituído pelo padre João Batista Frota em 1971. Passara seus últimos anos de vida em sua terra natal, onde veio a falecer a 03 de novembro de 1973. Monsenhor Nel é hoje epônimo de duas escolas municipais massapeenses, uma merecida homenagem àquele que muito se preocupou com a formação de seu povo em todas as dimensões.



