O Brasil está entre os países que mais desperdiçam alimentos no mundo. O problema tem sido objeto de estudos e pesquisas, mas não tem recebido a devida atenção no dia a dia. Boa parte dos alimentos adquiridos vai para o lixo, especialmente, hortaliças, frutas, sobras de comida e alimentos industrializados com validade vencida ou com algum defeito na embalagem. O desperdício de comida é um escândalo perante a miséria, a fome e a desnutrição, além de pesar no bolso e prejudicar o meio ambiente. Tal desperdício daria para matar a fome de muita gente ou alimentar melhor inúmeras pessoas carentes. Apesar de dados alarmantes, para constatar a gravidade do problema, basta estar atento aos próprios hábitos pessoais e familiares ou conferir o lixo doméstico ou os depósitos de lixo.
Dentre as suas causas, estão o descuido e o despreparo nas várias fases da produção e manuseio de alimentos, do plantio à colheita, no transporte e na conservação de alimentos, passando pelos centros de venda, chegando às residências dos consumidores. Apesar do problema não receber a devida atenção, há felizmente iniciativas para evitar o desperdício, especialmente, para o aproveitamento das sobras de alimentos em condições de consumo. Temos muito a fazer para superar o desperdício desses alimentos e criar um novo estilo de vida, uma nova cultura: do consumo consciente, da cidadania responsável, da simplicidade de vida, da solidariedade e da partilha. Além da ação indispensável dos órgãos públicos e das iniciativas da sociedade civil organizada, é fundamental a participação das pessoas. Pequenas mudanças de hábitos podem ajudar muito, a começar do cuidado na conservação dos alimentos e do aproveitamento das sobras de comida nas cozinhas das nossas casas.
Temos muito a aprender com o episódio bíblico do maná no deserto. Na longa travessia do deserto, no êxodo, o povo se alimentava do maná, dom de Deus. Contudo, havia regras para evitar a acumulação e o desperdício do maná e garantir que todos tivessem o alimento necessário (Ex 16,15-20). Ninguém deveria desperdiçar ou acumular o maná. Tal lição precisa ser recordada e atualizada num mundo em que o direito humano à alimentação não tem sido assegurado para todos.
É preciso ter presente também outras formas de desperdício no consumo de água, de energia elétrica, de celulose e de outros recursos naturais. O desperdício tem também sérias consequências socioambientais provocando o esgotamento de recursos naturais, a poluição do meio ambiente e o aquecimento global. O emprego de materiais recicláveis e a coleta seletiva de lixo se apresentam como iniciativas promissoras no enfrentamento do problema do desperdício e do consumismo, em suas variadas formas. É preciso dizer “não” ao desperdício de alimentos e de outros bens e cultivar uma atitude de cuidado responsável pela vida e pelo planeta, nossa casa comum.

Cardeal Sergio da RochaArcebispo de Salvador

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