Nordeste às pegadas do padre Cícero

0
padre cicero

Lucas Monteiro Barbosa
seminaristalucas18@gmail.com

Independentemente das motivações pelas quais muitos historiadores se aventuraram pelos anais da vida do Padre Cícero Romão Batista, o “Padim Cíço”, como é devotamente conhecido, sobretudo pelos romeiros de Juazeiro do Norte, sempre foi centro de debates na historiografia do Nordeste brasileiro. Algumas de suas biografias estão envoltas de um apelo sentimental particular de seus respectivos autores, outras, contudo, tentam, imparcialmente, divulgar informações objetivas, isto é, os fatos que levaram o patriarca de Juazeiro a ser uma das principais figuras que representam toda a história e cultura do Nordeste. Em todo caso, o Padre Cícero sempre dividirá opiniões quanto à sua Santidade já proclamada por seus afilhados, mas nunca lhe será negada a atenção devida por ser um dos alicerces do Nordeste.
Em tempos de seminarista, formado aos moldes da “romanização”, Cícero Romão Batista, embora sempre obediente à Igreja, não via consonância entre a austeridade litúrgica e pomposa na formação que recebera com os padres lazaristas do seminário da Prainha, em Fortaleza, e a simples e ingênua religiosidade popular dos sertanejos, da qual era oriundo. É bem verdade que as devoções populares ou o “catolicismo colonial”, como era conhecido o modo genuinamente brasileiro de expressar a fé católica, condizente com o credo católico romano, era tido pelos doutos, às vezes até por alguns bispos, como uma expressão um tanto supersticiosa e fanática. Aliás, este era o termo mais utilizado depreciativamente, “fanatismo”.
Padre Cícero, entretanto, motivado pelos exemplos dos padres Ibiapina e Inácio Rolim, ao chegar a Juazeiro do Norte em 1871, empreendeu uma metodologia de trabalho e pastoreio à frente de seu tempo. Com o passar dos anos e os inolvidáveis acontecimentos que se sucederam em Juazeiro do Norte, o padre Cícero ganhara do povo, embora tenha evitado, a fama de Santo. As romarias ao povoado se tornaram cada vez mais fervorosas. Em tempos de seca, por exemplo, como a tão lancinante seca de 1915, Juazeiro era invadida por sertanejos vindos de todas as partes para pedir as bênçãos de Deus e do “Padim”.
Mesmo com os mal-entendidos por parte do clero do Ceará em sua época, o Padre Cícero jamais abandonara a missão que lhe fora confiada, segundo ele mesmo, pelo Sagrado Coração de Jesus. A missão de cuidar de cada romeiro, especialmente os mais pobres e oprimidos. Notavelmente, a intensidade da fama do “Padim” reverberara por todos os cantos do Nordeste, transformando o padre em uma das mais icônicas e expressivas traduções da cultura nordestina. Após quase noventa anos da morte de seu patriarca, Juazeiro continua recebendo, todos os meses, romeiros cada vez mais ávidos, muito mais depois da reconciliação do padre com a Igreja, por verem a Santidade do padre Cícero, enfim, ser reconhecida no cânone da Igreja de Cristo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *