Nossa inteligência cordial

O ser humano é, por excelência, solidário, generoso, amável e amante. Nessa capacidade humana de portar o bem dentro de si, somos convidados a desenvolver relações de um cuidado cada vez maior com os outros seres humanos e com a Mãe Terra. Uma ética da responsabilidade mútua deve prevalecer nas nossas relações.
E isso não deve ser uma questão de escolha, mas sim de uma urgente obrigação que deve nos impelir a mudar os rumos da humanidade. Não podemos continuar a nos destruir uns aos outros, destruir nossas florestas, nossos patrimônios naturais e culturais. Não podemos continuar a disseminar nagativismos, negacionismos, ódios e rancores. É necessário, mais do nunca, cuidar do coração, para que dele brote a paz interior e a paz social.
Corre-se o grande perigo de crescermos na racionalidade e decrescermos em aspectos emocionais, espirituais e afetivos. Isso nos impede de viver o novo paradigma da fraternidade, tão necessário na atualidade. Essa mudança de rumos só ocorrerá quando redescobrirmos nossa inteligência cordial.
Ao longo da evolução da espécie humana, foi sendo desenvolvida nos hominídeos a inteligência intelectual. Corresponde à nossa capacidade técnica e científica. Porém, bem mais ancestral é a nossa inteligência cordial. Esta tem sua sede no coração, que é nosso “centro de comando”. É a nossa capacidade sensível, emocional e afetiva. É essa inteligência cordial que nos caracteriza como mamíferos racionais. É próprio dos mamíferos o cuidado, o carinho com os filhotes, o afago, o contato.
Isso nos caracteriza como seres essencialmente afetivos. No coração está o mundo das excelências, o mundo dos valores. Está a solidariedade, a ética, a espiritualidade. Por isso, se faz tão necessário resgatar os direitos do coração. Precisamos da inteligência intelectual para enfrentar os desafios que se nos impõem, mas precisamos mais ainda enriquecê-la com a inteligência cordial.
Esta nos é mais ancestral e nos liga com laços afetivos à Terra e a todos os outros seres. É a inteligência do coração que nos torna mais seres humanos. E é o coração que precisa ser bem cuidado para que dele brote o bem viver e as belas atitudes das quais todos os homens são capazes.
É o cuidado do coração que torna o ser humano menos rude, áspero, duro, mais benigno, suave, capaz de recuperar a amabilidade que há em si. Tal amabilidade se manifesta no trato com os outros, no cuidado com a natureza, no cuidado para não destruir e não magoar ninguém com palavras ou gestos. O desafio é enfrentar a correria do dia-a-dia que nos rouba tempo e energia e nos faz passar sem ver o outro.
Mas sempre é tempo de recuperar esses direitos do coração. De sermos pessoas mais amáveis, mais próximas, capazes de viver o amor nas relações pessoais e a partilha nas relações sociais. Com a inteligência do coração, o mundo vai se transformando quando oferecemos aos outros sorrisos, palavras de estímulo e espaços de escuta em meio a tanta indiferença.



