Nosso Poeta Partiu!!!

Martônio era a afirmação da vida, solar, sagitariano, do fogo, uma explosão, uma alegria, um seguir em frente. Esbanjava talento. Respondia no ato. Precisava de música. Gostava de gente. Adorava festa. Sua fala no auditório da Justiça Federal, ao lado de Flávio Dino e Diathay Bezerra de Menezes (o decano da nossa antropologia) foi show. Sua resposta aos jornalistas que o esperavam na saída do Fórum e lhe informaram da reação desafiadora do então Governador Tasso a uma decisão sua: “quem brincava de princesa, acostumou na fantasia”. E por aí vai. Em um final de tarde do ano de 1999, em Sobral, seu pai foi sepultado. Pouco depois, em um restaurante, éramos quatro, ele falou sobre a morte, e a morte não lhe incomodava, se chegasse quando os seus dois filhos fossem adultos. Cheguei um dia em sua sala e ele ditava cinco sentenças a cinco servidores, andando de um lado para outro, uma capacidade, em quantidade e qualidade, que era um espanto, quase de outro planeta. Teria sido um comunicador, um homem de auditório. Amante dos clássicos da literatura, sabia tudo de cor e salteado. Daquelas obras, adicionadas a sua vivência, hauria sua fala. A área jurídica é como uma muralha, que nos atrai a todos, não resistimos, sequer notamos, e lá ficamos pregados, cada vez mais padronizados, e a produção parecida, e a sucessão de rituais ossificados. Martônio não foi arrastado por essa força a essa muralha. Era de fato diferente. Não consigo ter um segundo de tristeza com sua morte: seria lhe negar. A morte não lhe espantava. Viveu cem anos e um dia. “I am grateful to you, you see. I wanted to tell you”. (Eu sou grato a você, você sabe. Eu queria te dizer).
Partida
Se a saudade é templo
onde reza a cada dia,
o meu passado contemplo:
Ao partir quanta alegria.
Quantos mares navegados;
Tantas naus já esquecidas.
Tantos homens exilados
e o sonhar por novas vidas!
Ficou pra trás outro mundo
de amores, sonhos, história
– A saudade dói profundo –
Vou morrer por novas glórias…
buscar em terras viçosas
o amor que tenho sonhado.
E depois cantar em prosas
sobre as coisas do passado.
Martônio Vasconcelos.



