OS QUATROS FILHOS DE SOBRAL
Tudo passa: alegria e a dor, o poder e a glória. Tudo é efêmero e se vai no decorrer dos anos, meses e dias mais felizes de nossas vidas. Os quatros filhos da cidade de Sobral: os meus pais Raimundo Miguel e Raimunda Soares, meus tios Gonçalo Sores e Necy Lopes, também, tiveram os seus dias e suas horas de partir para a eternidade. Lá no silêncio de Deus.
Assim, tocados pelo tempo efêmero na dimensão da natureza humana, os quatros filhos de Sobral, partiram para a vida eterna, mas deixaram as suas humildades de suas orações nos corações dos seus familiares e dos amigos no sentido de que o homem restabeleça o seu encontro com a fé, mas em Deus.
As suas humildades, portanto, era uma delicadeza do amor pelo verdadeiro sentido da vida, eis aí algumas das razões que levaram os quatros filhos de Sobral, de perceberem a força interior e as possibilidades que estão presentes em cada um de nós. Era como se eles nos dissessem poeticamente, para se vasculhar estrelas, temos que palmilhar o coração. É no coração que Deus quer marcar o primeiro encontro.
Isso me faz lembrar, o que eles, também amavam a poesias dos grandes mestres repentistas cearenses, entre eles, o Cego Aderaldo, como um grande exemplo de vida, em versos, uma prece a São Francisco, ele estendeu a mão à caridade, e foi como lhes houvesse dado oportunidade para uma alegre descoberta de serem mais uns dos confidentes de Deus.
Não há porque não se conceder que a poesia esteja ligada à fé, principalmente quando se sabe que, para a difusão da fé, o instrumento essencial é a palavra a que recorrem todos os pregadores. A Bíblia é um livro cheio de poesia. E não esquecer que as palavras de Cristo são, em geral, poemas disfarçados de parábolas.
Imagino, porém, que, ao falar assim de Deus, é simplesmente porque os quatros filhos de Sobral, Raimundo Miguel e Raimunda Soares, Gonçalo Soares e Necy Lopes, nos ensinaram que Deus está plantado na raiz do homem, necessitando apenas o homem, que tenha a humildade de consultar o seu coração. E nele encontrará Deus.
Até porque a questão não é sair o homem aleatoriamente à procura de Deus, mas o homem saber prepara-se para deixar Deus vir a sua procura, ou despertar em seu coração, pois que o homem já é um ser achado, embora nem sempre saiba disso, ignorando assim que, quanto não se dispuser ir de encontro de si mesmo estará fatalmente em desencontro com o Criador.
Esse encontro com Deus exige olhos de ver ou ouvidos de ouvir, pois, sem dúvida, olhos e ouvidos são partes da fé, e o mundo está cheio de cegos e surdos, e o que é pior, em nossos dias, como se ver, os corações estão em envoltos, em espesso véu. Ou seja, de pessoas, até aquelas que se diz de Deus, fechadas em seus egoísmos e em seus injustificáveis orgulhos, cheios de preconceitos racistas e social, e muito esnobismo, aí pondo remendo sobre em suas hipocrisias.
Os quatros filhos de Sobral, não tiveram problemas dessa natureza. Em suas caminhadas, nunca precisaram andar em busca de Deus, porque sempre estiveram e permaneceram com Deus. Como muitos sabem, nas suas andanças pelas ruas de Sobral, aproximavam-se dos outros, com o amor de Cristo.
Portanto, em Deus, a essência repousa Cristo, do qual, fala o Apostolo Paulo, somos como membros do mesmo corpo, do qual faz parte Cristo, sem destaque, pois que ele, como parte, é aquele que disse “tive fome e não me deste de comer”, ou seja, ele não é a parte que virá, que voltará, mas que permanentemente estava, nos quatros filhos de Sobral, que nos falavam de um Cristo que não foi embora, apesar de haver ressuscitado, senão de um Cristo que está em nós como semelhante. Com certeza eles, estão ao lado de Cristo.
Em se tratando de Cristo, há poucos dias, numa das minhas andanças pelas ruas de Sobral, relembradas pelo escritor Herculano Costa, me deparei emocionado, na calçada oposta à da Casa Episcopal, onde residia o primeiro Bispo de Sobral, Dom José Tupinambá da Frota, caracterizador de tantas feridas alheias, assim, tornando-se um disseminador da fé, percebendo que ele era a favor dos pobres, os quatros filhos de Sobral, não hesitaram em ir ao encontro daquele que lhes ensinou como é possível chegar à plenitude humana.
Os quatros filhos de Sobral sempre procuram a religiosidade, honestidade, sinceridade, integridade e generosidade no ser vivente que procuramos em vão no meio da alienada massa de homem da cidade de Sobral..
Quem conheceu os seus pensamentos críticos, percebe como eles eram a favor de uma justiça social. Eles aos se verem bombardeados pela injustiça social, reside as suas condições de eleitores, apoiando o Padre José Palhano de Saboia à prefeito de Sobral, atacando os alienados endinheirados, em defesa de uma sociedade mais justa.
Mas, às vezes, nas horas de fugas, deixavam as políticas comunitárias, para dialogar com os amigos nas esquinas e nas bodegas, falavam de todas as coisas, desde das mais religiosas, as mais desenhadas fofocas políticas da cidade.
Enfim, os quatros filhos de Sobral, ao longo da vida, descobriram o principal dom do coração: a amizade fazia desfilar os nomes dos amigos vivos e mortos, apontando-lhes os detalhes marcantes das personalidades de cada um. Eles amaram tanto sua terra natal, quando fizeram sua casa choraram: era o orgulho de construir o próprio ninho de taipa, em um bairro pobre na cidade de Sobral.
Hoje, guardamos esse legado dos quatros filhos de Sobral, que continuaram vivos por este mar de nós todos, com os seus itinerários no âmbito religioso e social, na cidade, que eles tantos amaram, onde só a memória é capaz de preservar, daqueles que respeitaram os desígnios de Deus, no centro do espírito. “E atira bem, quem atira com espírito”, dizia Guimarães Rosa.
Jornalista, Historiador e Crítico Literário.