Para que servem as escolas?
por Fátima Moura
Mais um ano letivo vai se encerrando. Para muitas escolas o tempo foi produtivo pelo fato de terem conseguido colocar em dia programas, planos de aula e atividades inerentes a construção e a apreensão de conteúdos. Mas será que concluíram com sucesso as ações que trabalham os valores de cunho social como direitos humanos, práticas pautadas pela ética, solidariedade, respeito à diversidade e tratamento igualitário? Estes são aspectos que integram a essência do ato de educar.
Falar sobre educação não é tarefa fácil, porque qualquer vertente escolhida corre o risco de resultar num texto maçante, enfadonho. Porém, é preciso abordar algumas situações relacionadas à educação institucionalizada que refletem diretamente na vida das pessoas. De início, é preciso saber que caminhos a escola nos disponibiliza. E estes rumos só podem ser definidos num bom Projeto Político Pedagógico (PPP), como estabelece a Lei de Diretrizes e Bases(LDB). Aquele que cultiva ações de uma escola integralmente voltada para a realidade da comunidade na qual se insere. Não adianta apresentar projetos inexequíveis; nem difundir ideias incompatíveis com a realidade do aluno, alheias aos interesses e aspirações da comunidade.
Certa vez, em entrevista, o escritor José Louzeiro, declarou que quando se identificava com os personagens de algumas de suas obras, tinha uma vontade danada de comer o livro. Lembrei-me de quando li os 10 volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs). Não me deu vontade de comê-los, entretanto, fiquei encantada e gastaria de habitar o país que realmente seguisse aquelas orientações. Porque o Brasil ainda não o é. O que muito me encafifa é o fato de uma escola da zona rural, que atende filhos de agricultor, não trabalhar a valorização da cultura local. Não há empenho para que o aluno se sinta parte integrante de tal comunidade, com respeito e até orgulho de seu estilo de vida. E a escola da cidade, não age na perspectiva equalizadora, especialmente, em relação à aceitação dos colegas provenientes da zona de lavoura.
As escolas não incentivam o aluno a se identificar com seu torrão, a dar continuidade ao trabalho na agricultura. Não é que seja obrigado a permanecer preso na terra e às tradições familiares, mas se quiser seguir outras carreiras que não sinta vergonha do trabalho desenvolvido na sua coletividade; não se sinta constrangido ao declarar suas origens. Nos casos em que as escolas dos distritos só funcionam com o nível fundamental, os alunos cursam o ensino médio na sede do município à noite, após as tarefas diárias. Lá muitos sofrem bullyng por serem jovens que passam o dia lidando com a criação de animais, com as culturas de subsistência e o extrativismo. De forma bem depreciativa, são tachados de matutos pelos colegas urbanos.
Ora, que esquisito, uma escola que não resolve o básico do convívio humano. As pessoas que estão no campo, logicamente, não exercem as mesmas funções de quem habita a zona urbana. Estes jovens lavradores, muitas vezes, têm melhor condição financeira do que os demais. Dificilmente o jovem da cidade terá uma atividade remunerada antes de concluir o nível escolar ou de cursar uma faculdade. O lavrador, muito cedo, adquire renda comercializando parte de sua produção. Nem por isso discrimina os colegas da cidade. A escola deve se colocar como instituição promotora dos direitos humanos, de respeito às diversidades cultural, econômica, social, religiosa e de gênero. E banir todo e qualquer ato de intolerância e violência.
As medidas contra este tipo de violação é da competência das secretarias de educação, com a participação efetiva da coletividade, principalmente, dos professores. Porque se eles não praticam o que determina a LDB e o que norteiam os PCNs, toda a sua formação pedagógica será inútil, no que se refere à missão de educar um aluno na sua integralidade. Caso contrário, os educadores não vão poder explicar de que valeu aquela montanha de teorias debatidas na faculdade. Desta forma, Dermeval Saviani, Cipriano Luckesi, Antônio Gramsci e Paulo Freire vão ficar bem tristes, decepcionados!