Pequeno memorial a Dom Coutinho, em seus 110 anos

Há 110 anos, no dia 7 de fevereiro de 1910, nascia Dom José Bezerra Coutinho, na então localidade Riachão, do município de Baturité (CE), hoje município de Capistrano. Filho de João Pedro Coutinho e de Maria José Bezerra Coutinho, foi batizado no dia 1º de maio de 1910.
Dom Coutinho viveu a maior parte de sua infância em Independência e por conta disto, muitos pensam que o Bispo ali nasceu. Cursou os Ensinos fundamental e básico em Independência e Crateús (1923-1925).
Sabendo que sua vocação seria servir a Deus pelo ministério sacerdotal, ingressou no Seminário pela Diocese de Sobral, visto que, embora nascido em Capistrano, vivia no território da Diocese de Sobral. Realizou o Ensino médio em Fortaleza, (1925-1927). Entre 1927 e 1928, cursou Filosofia no Seminário da Prainha, na Capital, onde cursou também Teologia, entre 1931 e 1933. Possuía, ainda, os Cursos de Psicologia e História da Filosofia, feitos em Fortaleza.
Em 4 de dezembro de 1932, recebeu o subdiaconato das mãos de Dom Manoel da Silva Gomes, em Fortaleza. O Diaconato foi-lhe conferido por D. José Tupinambá da Frota, a 11 de junho de 1933. Foi o 23º Sacerdote ordenado por Dom José Tupinambá da Frota em Sobral, no dia 03 de dezembro de 1933, juntamente com os colegas: Antonio Ivan de Carvalho, Inácio Nogueira Magalhães e João Batista Pereira.
Recém-ordenado, foi nomeado Vigário de Massapê e Meruoca (CE), entre 1934 e 1935. Sua segunda Paróquia foi São Benedito, além de Vigário, dirigiu o Colégio Farias Brito e presidiu a Sociedade Cultural de São Benedito (1953-1956). Naquela Cidade permaneceu de 1936 a 1956, construindo ali três postos de saúde e uma maternidade, que ainda está em funcionamento e, ainda, dois colégios mistos, o Patronato Dona Maria Luíza e a Escola Normal Rural de São Benedito.
Em 04 de março de 1950, foi eleito Pároco Consultor de toda a Diocese de Sobral, sem prejuízo às suas funções de Vigário Paroquial de São Benedito. No dia 06 de agosto de 1956 foi nomeado Bispo, pelo Santo Padre Pio XII e teve sua Ordenação Episcopal no dia 28 de outubro de 1956, na mesma Catedral de Sobral, de cuja Diocese, passou a ser Bispo Auxiliar até 1961, escolhendo o lema episcopal: “Dominus Illuminatio mea” (O Senhor é minha luz).
Com a morte de D. José Tupinambá, Bispo de Sobral, em 1959, foi eleito pelo Clero da Diocese Vigário Capitular de Sobral e o Museu Diocesano, hoje Museu Diocesano Dom José, ficou sob sua direção, funções em que permaneceu até 1961.
Enquanto esteve à frente da Diocese de Sobral realizou profícuo trabalho, destacando-se a reestruturação da Diocese em todos os aspectos, inclusive o financeiro; instalação de quinhentas Escolas Radiofônicas do Movimento de Educação de Base (MEB); fundação da primeira faculdade de Filosofia do interior do Ceará, a Faculdade de Filosofia Dom José, diríamos alicerce da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
Em 28 de janeiro de 1961, foi nomeado Bispo da recém-criada Diocese de Estância, em Sergipe, onde instalou a Diocese em que esteve à frente de 16 de abril de 1961 até 1º de junho de 1985.
Na Diocese de Estância, fundou três casas de apoio às comunidades, nos Municípios de Estância, Poço Verde e Tobias Barreto, com projeto desenvolvido pelas Irmãs Santa Maria, congregação de origem belga, com trabalhos de catequese, educação gratuita e aconselhamento.
Foi responsável, na Sede da Diocese, pela reforma de um hospital construído em 1860 que hoje proporciona assistências médica e religiosa aos necessitados.
Reformou a Igreja Catedral e a do Curato de Nossa Senhora do Rosário; construiu novas instalações para o Colégio Sagrado Coração de Jesus e o Centro Social. Fundou o Instituto Diocesano e criou o Centro Paroquial de Tomar do Geru, além de construir e reformar as Igrejas de Cristianópolis, Umbaúba, Arauá, Pedrinhas, Indiaroba, Salgado, Lagarto, Boquim, Itabaianinha, Tomar do Geru, Poço Verde, Riachão do Dantas, dentre outras.
No exercício de suas atividades no Episcopado, participou do Concílio Ecumênico Vaticano II, realizado sob os pontificados dos Papas João XXIII e Paulo VI, foi Presidente da Comissão de Pastoral da Família; Membro da Comissão Representativa da CNBB; Presidente da Sociedade Educacional Farias Brito e da FACEME; Presidente da Sociedade Beneficente Amparo de Maria, Mantenedora do Hospital Amparo de Maria.
Aos 75 anos, renunciou à função de bispo-titular de Estância (SE) e resignou-se, passando a residir em Fortaleza, no bairro Papicu, onde construiu uma capela dedicada a São José e paralelo a isso, foi capelão do Hospital Geral de Fortaleza e um dos Vigários Gerais da Arquidiocese de Fortaleza.
Integrou o Instituto Geográfico e a Associação de Imprensa de Aracaju (SE), a Academia Sobralense de Estudos e Letras (sócio-honorário), a Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará (sócio-honorário), a Academia Fortalezense de Letras (sócio-honorário) e, ainda, presidente de honra da Academia Brasileira de Hagiologia e da Academia Cearense de Hagiologia. Recebeu a cidadania honorífica de São Benedito (CE), Sobral (CE), Estância (SE) e do Estado de Sergipe, além do Doutoramento Honoris Causa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA de Sobral.
Até pouco antes de falecer, Dom Coutinho mantinha agenda intensa, apesar da condição de Bispo Emérito, ou seja, aposentado, permanecendo fiel com seus deveres religiosos. Passava seu tempo entre a Capela de São José e o Hospital Geral. Dormia cedo e acordava mais cedo ainda. Às quatro horas estava acordado, meia hora depois rezava seu breviário; em seguida, café da manhã e leitura dos jornais locais, para depois ir ao HGF, onde celebrava, visitava os enfermos, ouvia confissões e dava a palavra de consolo aos pacientes e seus familiares.
Figura das mais cultas do episcopado brasileiro, conforme definiu o historiador Geraldo Nobre, Dom Coutinho, estava sempre presente em todos os movimentos religiosos e culturais a que era chamado e lembrava: “posso dormir mais tarde, meia noite, por exemplo, mas às quatro, estou acordado e prossigo com os compromissos do dia seguinte”.
Dom José Bezerra Coutinho, então bispo-sênior católico do Brasil (o mais idoso), faleceu a 7 de novembro de 2008, aos 98 anos, de parada cardíaca, em Fortaleza, com 65 anos de sacerdócio e 41 anos de sagração episcopal. Foi velado na capela que criou e que hoje é Paróquia, no bairro Papicu, Paróquia de São José e seu sepultamento se deu no dia seguinte, na cripta da Catedral Metropolitana de Fortaleza (CE).
Por José Luís Lira
Especial para o Correio da Semana