Ary Albuquerque

LIÇÃO DE VIDA

Os negócios não iam bem. Desencantou-se com vida. Foi a um psicólogo. Fez analise. Continuou pior. Pediu conselho aos amigos. Não adiantou.
Era domingo. Resolveu flanar pelas ruas. Parou numa praça. Sentou-se. O banco ficava debaixo de uma frondosa árvore. Ficou a olhar os transeuntes. Chamou- lhe atenção uma bela moça que vinha numa cadeira de rodas elétrica. Ela mesma dirigia o transporte mecânico. De sorriso encantador, irradiava luz e esperança. Quando a moça passava a sua frente, levantou-se, abruptamente, e interrompeu seu trajeto. Ela esboçou um ar de espanto e perguntou o que desejava. Identificou-se como Paulo e pediu ajuda. Julia apresentou-se e prometeu ouvi-lo por dez minutos, pois, tinha um compromisso marcado.
Foram para debaixo da árvore. Ele começou a falar, compulsivamente, e contou todas as suas desventuras. Depois, arrependido e confuso pediu desculpas de sua atitude. Julia o ouviu, atentamente, e depois, falou: “Fui atleta desde criança. Nadei, fiz equitação, basquete e vôlei. Meu noivo, excelente desportista. Íamo-nos casar nesse final de ano que passou. Tivemos um acidente automobilístico, César morreu e eu fiquei sem andar. Meu pai, empresário rico, faliu e morreu de desgosto. Minha mãe morreu de câncer. Sou filha única. Morávamos num palacete, hoje, moro numa quitinete. Fiz jornalismo. Mantenho-me, trabalhando. Sou funcionária do Jornal O TEMPO. Mantenho duas colunas, uma sobre esportes e a outra comento Artes Plásticas Ganhei um prêmio do jornal. Vou a China passear.»
Fez uma pausa. Paulo calado, ouvia atento. Continuou: “A vida não perdoa ninguém. Só vive quem aceita seus desígnios e sabe enfrentá-los.
Estamos nesse mundo de passagem e temos que pagar nosso pedágio. Não me leve a mal por ter sido franca em demasia. Não nos conhecemos e, talvez, eu não devesse ter falado com tanta fraqueza. Desculpe, é meu jeito de ser…”.
Paulo riu um riso desconcertado. Teve vergonha de vestir calças e parar uma mulher na rua para pedir conselhos. Comovido, agradeceu. Trocaram endereços e telefones. Depois, daquele encontro sua vida mudou, seguiu um ritmo diferente. Nunca procurou Julia, nem foi procurado por ela. Em compensação, passou a ser, daquele dia em diante, o mais assíduo leitor de suas colunas no jornal O TEMPO…

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