Padre Ibiapina merece mais de sua terra

Neste sábado, 5 de agosto, transcorre o 217º aniversário de nascimento do Padre Ibiapina; antes, em 19 de fevereiro deste ano foi lembrado o 140º ano de sua morte.
Não obstante o valioso e incansável trabalho de pesquisa e divulgação do Monsenhor Sadoc de Araújo e de mais algumas pessoas, lamentavelmente Padre Ibiapina continua um ilustre sobralense desconhecido por muitos conterrâneos. Observa-se, inclusive, que até mesmo dentre os que conhecem sua história, muitos demonstram não ter muito interesse em divulgá-lo como o famoso missionário sobralense bem merece. Nem mesmo alguns remanescentes da família. Agora, deixa virar santo…
Por outro lado, dever de justiça destacar e parabenizar o trabalho dos paroquianos da igreja do Cristo Ressuscitado (Ressurreição), construída pelo Mons. Sadoc de Araújo. Com muito esforço e dedicação, anualmente no início de agosto esses fiéis devotos realizam intensa programação alusiva à Semana Pe. Ibiapina, que se encerra no dia desse mês.
Para quem ainda não sabe, José Antônio de Maria Ibiapina, cognominado “Peregrino da Caridade”, nasceu em Sobral (CE) a 05 de agosto de 1806. Além de sacerdote católico, foi professor universitário, advogado, delegado de Polícia, juiz de Direito e deputado geral (hoje o equivalente a deputado federal). Pe. Ibiapina faleceu no distrito de Santa Fé – Solânea (PB), a 19 de fevereiro de 1883, onde está sepultado.
Em 2016 integrantes da Congregação para a Causa dos Santos, da Santa Sé, estiveram em Guarabira (PB), realizando investigações do processo de beatificação do já considerado “Servo de Deus”, título que recebem aqueles cujo processo de beatificação é iniciado.
Fora da sua terra, Pe. Ibiapina é muito reconhecido, aclamado e respeitado desde pessoas simples do povo a grandes vultos do País. Por exemplo, Gilberto de Mello Freyre (1900-1987), sociólogo, antropólogo e escritor brasileiro, curvou-se diante da importância do padre sobralense, chegando a considerá-lo “o maior nome da Igreja Católica no Brasil”. Seu artigo intitulado “O exemplo de Ibiapina”, publicado n´O Jornal (Rio), em 09.06.1942, foi o pretexto para a prisão do sociólogo pelas autoridades do Estado de Pernambuco.
Nele, Gilberto Freyre citou: “Ibiapina foi realmente isto: uma enorme força moral a serviço da Igreja e do Brasil”. Naquela época (1942), ele disse também: “Noutro país cristão a obra do padre Ibiapina – suas boas e santas “Casas de Caridade” – seriam hoje uma força organizada a serviço cristão dos sertões. Seria uma força organizada semelhante à dos Salesianos”. E, sem receio de represálias, Freyre sentenciou: “Nunca o Brasil precisou tanto como hoje de padres que ao ideal universalista de católicos, à larga simpatia humana de cristãos, reúnam, como Ibiapina reunia, a autenticidade de sua condição, do seu sentimento e das suas preocupações de brasileiros”. Por causas de algumas dessas afirmações o sociólogo experimentou a cadeia.
A exemplo de Gilberto Freyre, outros estudiosos, brasileiros e estrangeiros, continuam a se debruçar sobre a vida e a obra de Padre Ibiapina. A internet está repleta de sites sobre este notável sobralense e centenas de escritores eruditos e populares tentam enaltecer e divulgar para as novas gerações a importância que Ibiapina teve para a Igreja e para o mundo.
Em âmbito local, antes das obras do Mons. Sadoc de Araújo, Dom José Tupinambá da Frota, primeiro bispo e o maior benfeitor de Sobral, dedicou ao Padre Ibiapina várias páginas em sua “História de Sobral”. Nelas, Dom José dando ênfase à importância das Casas de Caridade como embrião da futura Santa Casa de Misericórdia.
Para consagrar ainda mais o incansável missionário, os paraibanos, que acolhem seu túmulo, não cansam de reconhecer o valor dele e de lhe render grandes homenagens, o que também ocorre em outros estados beneficiados pelas missões do Peregrino da Caridade. Nessas missões, Pe. Ibiapina pregava a Palavra de Deus; levava educação, estímulo e consolo aos carentes; construía açudes, cemitérios, Casas de Caridade, dentre outras importantes realizações.
Vale destacar que tudo isso era feito Padre Ibiapina em mutirão com o povo, sem ajuda governamental. Realizava, enfim, um impagável trabalho, que beneficiava tanto o lado espiritual como material daqueles sofridos nordestinos. Sua iniciativa em realizar obras sociais serve de lição para os atuais governos que, mesmo com recursos financeiros e modernos equipamentos não consegue realizar em todas as regiões mais necessitadas.
Diante de tudo isso, insisto numa pergunta que continua a me inquietar. Ei-la:
Por que, então, os cearenses, em especial os sobralenses, que acolhem o berço do sacerdote, ainda não despertaram para reconhecer mais, divulgar mais e homenagear condignamente Padre Ibiapina e, assim, saldar a dívida histórica de gratidão? Por quê? Por quê? Por quê?

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