“Rádio: Oportunidade perdida…”

No Brasil, desde 2006, o Dia Nacional dos Radialistas passou a ser comemorado em 07 de novembro, numa homenagem ao músico, político e radialista Ary Barroso (1903-1964). Trata-se de profissionais que, juntamente com os que fazem jornal, televisão e as novas mídias (internet), são os principais agentes na famosa sentença “A imprensa é o quarto poder”, cunhada pelo advogado, filósofo e político anglo-irlandês, Edmund Burke (1729 – 1797).
A ação desses trabalhadores da voz – quer voltada para o bem, quer para o mal (infelizmente há isso também!) vem justificando a frase de Burke no decorrer da história. Basta observar a influência desse poder no sucesso ou no fracasso de projetos; na ascensão ou queda de governantes ou simplesmente na facilidade com que um episódio divulgado pode ganhar notoriedade ou cair no esquecimento.
O dito de Burke se justifica também pela forma com que uma pessoa deixa de ser um desconhecido qualquer e alcança rapidamente a fama. Vale salientar que o inverso também pode acontecer com a mesma facilidade e velocidade. Vai depender de como o caso for “trabalhado” pela imprensa.
Quanto ao mau uso do microfone, o grande comunicador brasileiro Hélio Ribeiro (1935-2000), cujo nome oficial é José Magnoli, pregava que “O Rádio é a maior oportunidade perdida de melhorar o mundo”.
É dever de justiça dizer que a grande maioria dos profissionais se norteia por esse lado bom, pela filosofia pregada por Hélio Ribeiro, procurando fazer do rádio um instrumento para educar, questionar, buscar o bem da sociedade e entreter. Só que, lamentavelmente, também existe a parcela dos que se afastam dessa filosofia como o diabo foge da cruz.
Mas muito dessa “oportunidade perdida” de que fala Hélio Ribeiro ainda pode ser evitado. Em primeiro lugar, que no País haja mais critério e rigor na concessão das emissoras e na consequente fiscalização. Isso evitaria que elas caíssem em mãos indevidas, principalmente de políticos, como ocorre hoje, respeitando-se as devidas exceções,
Da nossa parte (radialistas), que haja mais respeito à profissão: que os profissionais sejam realmente vocacionados para a comunicação salutar; que busquem a verdade através da pesquisa, da investigação e do estudo, fugindo, assim, do maléfico “achismo” e da parcialidade. Que também seja evitada, ou melhor, banida a terminologia desrespeitosa, chula (o palavrão) usada por alguns, assemelhando-se mais ao linguajar de molecada de ponta de rua e chegando a estuprar os ouvidos de quem preza pela moral.
De igual modo, que se imprima mais respeito ao nosso Vernáculo, o que evitaria alguns crimes graves cometidos contra a já sofrida Língua Portuguesa. Que também sejam poupados os ouvintes de se tornarem depositários dos problemas pessoais, queixas e revoltas de quem fala (o radialista).
Outro ponto que merece questionamento é a gula quase irracional por audiência a qualquer custo, principalmente através da divulgação da desgraça, da intriga, enfim, da má notícia. É óbvio que não se pode negar ou ofuscar a realidade, pois isso descambaria para a alienação. Agora, não dar espaço maior para o que de bom também acontece e, além disso, dar ênfase à má notícia apelando para o sensacionalismo é cruel e deprimente para o ouvinte.
A justificativa de alguns que assim procedem é de que a pratica é nacional. Segundo eles, é o que ensinam os grandes “líderes’ de audiência. Para mim, não é bem assim. Seguir cegamente esses “lideres” denota despreparo ou preguiça mental para avaliar o que realmente é bom e útil a uma comunicação séria e edificante. E é por causa dessa aparente cegueira que tem aumentado o número dos que praticam essa “comunicação” e dos que se deixam guiar por alguns desses comunicadores e políticos incautos ou mesmo maldosos.
Por falar em política, não é nenhum segredo de que há profissional que precisa exercitar mais o respeito a si e à categoria, procedendo de forma honesta, em favor do que é correto, da verdade, sem “tendencionismo’ político. Assim, estará protegido de ceder ao assédio das ofertas de rações financeiras ou dos “favores” de quem só visa arrastá-lo para debaixo do seu jugo e depois usá-lo como quiser.
Vale salientar que trabalhar para um grupo político ou para uma instituição, defende-lo, defende-la, inclusive, com argumentos convincentes, não é nenhuma transgressão. Isso é algo inerente à profissão; é um direito do trabalhador de exercitar seu ofício e garantir sua sobrevivência profissional e pessoal. Mas isso desde que o trabalho do radialista/jornalista não se direcione unicamente para agredir adversários ou macular pessoas com as quais não simpatiza, munindo-se quase sempre a mentira ou acusações sem comprovações.
Sem dúvida, incorrendo nesse erro o profissional não tem como exigir respeito; manietado, torna-se objeto de manipulação do patrão/político e gera prejuízos à reputação da sua categoria. Nesse enfoque, tenho de concordar com a confidência de um perspicaz ouvinte ao dizer que há alguns radialista/jornalistas que mudam de opinião, ou melhor, mudam “de lado”, como se troca uma camisa, nem se lembrando ou simplesmente tornando sem efeito o que pregava antes. É uma lástima!
Outra virtude que anda sendo negligenciada por companheiros tem sido a humildade, incluindo-se nesse rol alguns medalhões e até calouros no microfone. Seria ideal imprescindível que alguns procurem ter mais “os pés no chão” e consciência de em tudo existe limite. Sem muito esforço, detecta-se que uma minoria (e ainda bem que é minoria!) empunha um microfone como se fosse uma arma mortífera, autoproclamando-se invencível, sem mensurar o mal que um microfone mal utilizado também pode causar. Isso é prova inequívoca de que o profissional desconhece que a palavra tem poder semelhante, e até superior, ao de qualquer outro tipo de arma.
Já no quesito gestão, mesmo sabendo da imperiosa necessidade de elas subsistirem, faz-se necessário que as emissoras evitem ter como foco principal apenas o lucro, deixando para segundo plano a boa programação. Infelizmente, essa sede de lucro abre portas para o ingresso de profissional sem qualidades morais e intelectuais e que, respaldados no pagamento do horário, veem-se no direito de achar que podem fazer o que bem entender e quiser.
Nesse questionamento, nota-se que os órgãos que formam profissionais (radialistas) continuam falhando na qualificação dos futuros comunicadores, no que concerne à formação ética, moral e cultural. No caso das empresas, observa-se que continuam evitando investir em treinamento e acompanhamento profissional. Mas antes disso, defendo que se seja imprescindível mais consciência de quem usa a fala. Enfim, ninguém é dono da verdade e todos estão sujeitos a erros e acertos.
Que seja radicalmente extirpada toda e qualquer forma de subserviência e de arrogância. Merece lembrar, nesta data, que microfone não é arma para intimidar, mas instrumento para formar, orientar, defender cidadãos e para trabalhar por eles.
Que tal os profissionais mais exaltados exercitarem mais a humildade para pedir desculpas quando errar e para aceitarem educadamente sugestões e críticas! Desde que comecei no rádio em 1996 procuro agir assim.
Da parte de quem ouve, que sejam praticadas mais observância e exigência dos quanto ao quesito qualidade do profissional e quanto à programação que está recebendo. Esse público tem todo poder para isso, pois o dispositivo capaz de trazer a palavra do comunicador pra junto de si também tem o mesmo poder para afastá-la. O radialista não está agradando, muda de estação ou desliga! Concordar com o que não agrada, que é prejudicial, ou apenas prestigiar isso é uma demonstração de conivência.
Esses são apenas alguns pontos a serem observados por quem deseja oferecer e por quem deseja e necessita de boa comunicação, aquela que proporciona a todos o crescimento.
Se por um lado há uma corrente que não pensa assim, por outro ainda existem os que obedecem à risca essa maneira de trabalhar, que fazem imprensa com muita responsabilidade, prudência, inteligência e criatividade. Esses, sim, merecem todo o respeito e o apoio dos companheiros que comungam com essa filosofia de bem comunicar e, mais ainda, merecem a preferência de quem pode patrocinar seu trabalho e o apoio total da sociedade. Enfim, ela é quem vai receber o produto final. E que esse produto seja o da melhor qualidade.
Finalizando, que nos apeguemos a essa mesma linha de pensamento, que falemos essa mesma língua. Pois, segundo o inglês David Ogilvy (1911-1999), Pai da Publicidade e fundador da Ogilvy & Mather, “Comunicação não é o que você diz, é o que os outros entendem”. Fazendo assim, e só assim, estaremos em sintonia com o ouvinte qualificado e fazendo uma comunicação qualificada, de que tanto necessitamos.
PARABÉNS,
COMPANHEIROS!

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