A vez delas!

Na sexta-feira (8) transcorrerá mais um Dia Internacional da Mulher. E mais uma vez insisto em mais questionamento sobre a necessidade de maior presença delas na política. Só mesmo disputando, elegendo-se e assumindo cargas, atingirão o percentual mínimo de vagas nos partidos que a lei lhes assegura.
Na origem da data, a versão mais aceita aponta para o que aconteceu em 8 de março de 1857, numa fábrica de tecidos de Nova Iorque, EUA. Cento e vinte e nove mulheres organizavam uma greve reivindicando uma jornada de 10 horas de trabalho por dia, bem como equiparação salarial com os homens que desempenhavam igual função.
Reprimidas pela polícia, foram refugiar-se na própria fábrica. Mas, de forma brutal, os patrões e a polícia trancaram as portas e atearam fogo, matando-as todas carbonizadas.
Essa infeliz ocorrência superou todos os outros acontecimentos desagradáveis e violentos que também contribuíram para a criação da comemoração em 1910, numa Conferência em Copenhagen, Dinamarca. Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, o Dia Internacional da Mulher é comemorado em 8 de março desde o início do século 20.

Na luta
No Brasil, muitas mulheres vêm timidamente se propondo a disputar cadeiras nas Câmaras ou Prefeituras. Para tanto, chegaram até a abraçar o conhecido slogan: “LUGAR DE MULHER É NA POLÍTICA”. Só que conseguir isso continua dependendo de as mulheres entenderem que se trata de uma questão de número, gênero e de grau.

Questão de número
Segundo o Censo 2022 Sobral tem 203.023 habitantes, sendo a maioria constituída de mulheres. Unidas, poderiam até eleger prefeito e vários vereadores.

Questão de gênero
As palavras bancada, política, câmara e mulher são do gênero feminino. Mas na bancada política da Câmara local há apenas quatro mulheres; a maioria – 17 – é do gênero masculino. Prova incontestável da falta mais de união das mulheres sobralenses, o que impede que mais cadeiras na CM sejam delas.

Questão de grau
Conscientização do seu potencial. É o que está faltando às sobralenses. Resolvida a questão do grau (de conscientização) as demais estarão resolvidas. Pensem nisso!

E mais
E não para por aí. Resolvidas essas questões, é claro que também dependem de outros pré-requisitos, como serviço prestado, ajuda de aliados, carisma, criatividade e, é óbvio, dinheiro, o que infelizmente é uma imposição do sistema. Se tentassem resolver tais questões, tudo ficaria bem mais fácil. Fica o alerta.

“Corage, muiés!”
Possivelmente as mulheres de hoje ouviriam essa frase da brava e famosa aniversariante de 8 de março: Maria Gomes de Oliveira – Maria Déa, ou Maria de Lampião ou, ainda, Maria Bonita. Nascida em 08.03.1911, em Glória, atual Paulo Afonso (BA), foi a primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros.

Perdeu a cabeça

Em 1928, viu Lampião, encantou-se, largou a casa e o marido, o sapateiro José Miguel da Silva (Zé de Neném). Assim, virou mulher de Virgulino Ferreira da Silva, o Rei do Cangaço. Anos depois, em 28.07.1938, Maria Bonita, Lampião e outros nove cangaceiros foram assassinados na Grota de Angicos, em Sergipe. Segundo a história, ela foi a única pessoa do bando decapitada ainda com vida.

Nem oito, nem oitenta!
Apesar ter desencadeado nova consciência nas mulheres para lutar por seus direitos, o fato cruel que originou a data deve servir não apenas para lamentação, mas também como estímulo para prosseguir na defesa de direitos. Além disso, a tragédia também deve ser lembrada e utilizada como sinal de alerta para a adoção de mais questionamento e prudência nas estratégias, bem como no uso de instrumentos que levam a novas conquistas. Que essa triste lembrança reforce em cada mulher a consciência de que para se alcançar vitórias e progredir é imprescindível muita união, e não divisão. E união não só com o mesmo sexo, mas com o oposto também.
Vale lembrar que, a exemplo dos negros, é inegável que através de muitas lutas as mulheres têm obtido consideráveis vitórias. E isso lhes tem aberto e garantido mais espaços em todas as áreas. Agora, que jamais esqueçam: muitos negros, por defenderem de forma cega e irracional suas causas, muitas vezes terminam esbarrando no preconceito aos brancos. Que cuidem, portanto, para que o movimento feminista não fuja do controle e se transforme em preconceito aos homens, o que seria passar a praticar o mesmo que ora condenam. Seria o preconceito às avessas.
É evidente que ainda há muito a fazer para reduzir a desigualdade entre os sexos. É imperioso que continuem a luta por mais espaços e contra o preconceito e contra a violência contra o sexo feminino, o que se comprova nos últimos anos pelo alarmante número de agressões e assassinato de mulheres (feminicídio). Que esse e outros temas façam parte da pauta dos questionamentos não apenas no 8 de março, mas em todos os outros dias do ano.
Só isso não é o bastante, não é o suficiente para inverter o quadro degradante em que vem submergindo a sociedade brasileira, onde a mulher deveria ter papel de maior relevância.
Lamentavelmente, nesse enfoque a figura da mulher, com as devidas exceções, continua sendo desrespeitada em seus direitos, massacrada e vista apenas como objeto de exploração nos mais diversos sentidos. O pior é que, muitas vezes, com sua anuência ou pela falta de coragem para impor-se, buscar e exigir respeito como elemento imprescindível da constituição e da sobrevivência da família. Mas há jeito. Invistamos na preservação família. Possivelmente, essa seja a saída.

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