“PRAÇA DO SIEBRA” a praça dos parques e dos circos

Em SOBRAL, nas décadas 60/70, a praça Duque de Caxias, hoje conhecida como Praça do Bosque, era no nosso tempo de CRIANÇA conhecida como a PRAÇA do SIEBRA. Ela foi palco para muitos circos e parques de diversões que visitavam nossa cidade…
(Circo Nerino, Circo Garcia, Circo Irmãos Bartolo, Parque Ibiapaba, Parque Shanghai, entre outros).
O Circo Nerino e o Circo Garcia marcaram época na Praça do SIEBRA, localizada a uma quadra da “praça da ema” na cidade de SOBRAL (No logradouro dois prédios públicos conhecidos: a Escola de 1° Grau Professor Arruda e a sede do Serviço de Abastecimento de Água e Esgoto – SAAE).
Estes circos marcaram prá sempre suas passagens pela cidade, por
que além dos números circenses, com suas bailarinas com pernas de fora, apresentavam peças de teatro diariamente, no final do espetáculo.
Cidade de cenas fortes, mas muito católica e conservadora, SOBRAL lotava nas duas ou três sessões diárias as cadeiras, arquibancadas e camarotes dos espetáculos, especialmente nos meses próximos a SEMANA SANTA, quando os circos encenavam a PAIXÃO DE CRISTO.
O Circo Nerino foi fundado pelo casal Nerino e Armandine Avanzi, em Curitiba, no primeiro dia de 1913, e apresentou seu ultimo espetáculo em 13 de setembro de 1964, na cidade paulista de Cruzeiro. Durante quase 52 anos, percorreu todo o país por diversas vezes. Viajou de trem, navio, barcaça, jangada e, por fim, de caminhão, em estradas de terra que na época eram de terra mesmo. E numa época em que o circo era o maior quando não o único espetáculo das terras do BRASIL.Uma das mais completas expressões de um modo de produção circense que predominou no BRASIL, desde o final do século XIX até os anos 60 do século seguinte, o Circo Nerino era circo-teatro, pois apresentava circo na primeira parte do espetáculo e teatro na segunda. Era circo pau-fincado porque os paus de roda de sua tenda eram fincados no chão. Era circo-familia porque a família era seu principal esteio. E como autêntico representante desse modo de produção circense, tinha como principal estrela, o palhaço, no seu caso, o Picolino.
Criado por Nerino Avanzi, no início do século XX, o palhaço Picolino se tornou conhecido em todo o país através exclusivamente do circo. Em 1954, seu filho, Roger Avanzi, o substituiu com o mesmo figurino, a mesma maquiagem, e o mesmo nome: Picolino. Pai e filho se desdobraram na personagem do palhaço por mais de um século, fazendo rir várias gerações de meninos, meninas e adultos do BRASIL.
O CIRCO GARCIA era um espetáculo à parte. Sua estrutura era de primeiro mundo e a todos encantava, com seus cenários maravilhosos, os animais raros. Onde as crianças ou mesmo os adultos daquele tempo iriam conhecer “ao vivo”, sentir o cheiro e (muitas vezes) até tocar nas girafas, elefantes, tigres, leões, ursos e macacos de várias espécies e tamanhos ?
Meu tio ALCIDES (BÔTO) ANDRADE, homem rico e possuidor de uma frota de caminhões, alugava os veículos para o deslocamento da estrutura, e, talvez por algum desconto, ganhava um permanente de camarote (4 pessoas). A cada noite o tio ALCIDES presenteava com estas cortesias o pessoal da família. Eram verdadeiros “passaportes” para o paraíso.
O CIRCO GARCIA tinha as bailarinas e trapezistas mais bonitas, o melhor teatro, os palhaços mais engraçados. Percorria toda a AMÉRICA DO SUL.
Em 2003, depois de 75 anos de sua criação, ele encerrou suas atividades. O circo famoso, que chegou a figurar entre os 4 maiores do mundo, baixou pela última vez a lona na cidade de SÃO PAULO, num terreno em M’ Boi Mirim, na periferia da zona sul.
Devendo mais de um milhão de reais, só sobraram do CIRCO GARCIA: 50 funcionários, 21 chimpanzés, 4 tigres, 2 elefantes, alguns trailers e o material da estrutura. Além do material em estado de abandono, sobraram também muita mágoa e tristeza. Tristeza porque a maioria dos funcionários nasceu no Circo e mágoa pela falta de apoio à categoria. Pouco antes do CIRCO GARCIA arriar a lona, o governo federal destinou uma verba milionária a um circo estrangeiro, o CIRC D’SOLEIL. Aos circos brasileiros, nem uma esmola. (colaborou na pesquisa o radialista FRANK OLIVEIRA)
Hoje os circos não despertam mais a magia de antigamente. No nosso tempo, anos 60 ou 70, havia os cinemas. Mas eles não interagiam com a gente, como o Circo. Era uma época de poucas diversões. Não havia televisão nem celular. O circo contagiava a cidade desde a sua chegada. Com as primeiras estacas fincadas na PRAÇA DO SIEBRA. A meninada perdia
o campo de peladas, mas o encanto e a expectativa do ilustre visitante batia forte o coração da garotada. Antes da estreia, havia o desfile das atrações do circo pela cidade. Com banda de música e o cortejo de alguns animais. Os palhaços todo dia saíam pelas ruas com suas pernas de pau e o clamor: HOJE TEM ESPETÁCULO ? TEM SIM SENHOR ! E O PALHAÇO O QUE É ???
É LADRÃO DE MUIÉ !!, respondíamos em coro. Nós os meninos que corriam atrás, porque sabíamos que no final havia a esperança de receber um ingresso. Nem que fosse para a matinê ou a vesperal do sábado ou domingo. Tenho pena da crianças de hoje, que não viveram a magia e a emoção do CIRCO !!!!
Por CAROLINO SOARES
Fotos e pesquisa: Google e arquivo pessoal.



