Profecia e esperança
Nestas semanas que antecedem a grande festa do natal, duas colunas importantes devem sustentar a espiritualidade do advento: a profecia e a esperança. Profecia, porque revivemos em quatro semanas aquilo que os profetas anunciaram por séculos: a vinda do Messias libertador. E esperança como sustento da profecia. Não se consegue profetizar sem a esperança de um bem futuro.
De fato, a esperança messiânica foi um aspecto importante da pregação dos profetas do Antigo Testamento. Em contextos difíceis, em que as estruturas sociais se encontravam abaladas e a grande massa da população vivia expoliada pela opressão dos poderosos, eles tinham a difícil tarefa de semear a esperança nos corações sofridos.
A esperança por eles anunciada consistia em um bem futuro, que era muito maior do que um sonho fantasioso ou uma ilusão, porque era uma esperança possível. Um sonho concreto de ser realizado. O Messias redentor, em algum momento, iria intervir na história da humanidade trazendo paz, justiça e fraternidade.
Nesse tempo do advento, renovamos essa esperança profética (ou profecia esperançosa) de um bem que intervém na história pessoal de cada cristão. Esse bem não representa algo de material, mas trata-se de um “alguém” que vem até nós. E não vem para nos conceder algo e depois se retirar. Vem para estar e permanecer conosco, fazendo-se dom de amor.
Nisso consiste a alegre expectativa que pervade os corações de quem se dispõe a viver espiritualmente o advento do Messias. Não é simplesmente celebrar a memória de um acontecimento passado, mas de acolher esse Deus que vem a nós no cotidiano existencial de nossas vidas. Essa compreensão leva-nos a entender que essa espera não é passiva. Não é uma espera de quietude.
Desde as comunidades cristãs primitivas, entendia-se a espera pela vinda do Senhor como algo que precisava se traduzir em obras de caridade e misericórdia. Nesse caso, a profecia cristã também é realizada através dos sinais do Reino de Deus, que somos convidados a manifestar em nosso meio.
O Senhor veio uma primeira vez, virá uma segunda, mas ele vem a nós a cada dia, a cada instante. Na Palavra proclamada, na Eucaristia celebrada, nas comunidades reunidas em seu nome, nos irmãos sofredores, e em cada mão que se estende ao próximo em atos concetos de amor. Isso também é celebrar o advento, à medida que manifestamos pequenos sinais do Reino, que um dia se manifestará plenamente. Eis a nossa profecia. Eis a nossa esperança!