Próxima semana teremos a fogueira de São João. Domingo passado foi Santo Antônio, amado em todo o Brasil. Até concedi entrevista à BBC sobre o Santo. Os tempos são estranhos. Em torno das fogueiras (fazemos as três), costumamos reunir além da família, amigos e os amigos destes, lá no Monte Alegre. Este ano foi diferente. Alguns membros da família e a fogueira parecia solitária, ela que tantas vezes nos aquece e reaproxima. Mas, isso passará. Sentindo o calor da fogueira, fiz prece a Santo Antônio pelo fim da pandemia. Que ele, com seus méritos diante de Deus-Altíssimo, rogue por nós!
E chegaremos à fogueira de São João. “São João disse, São Pedro confirmou, que no dia dele, nós vamos ser compadres, que Jesus Cristo mandou”. Pulando pra lá e pra cá sob uma tora de lenha acesa, selávamos a passagem de fogo aos gritos de viva aos santos juninos e aos passantes de fogo. Que saudade!
Escrevo este texto numa sala de escritório, mas, se fechar os olhos, volto à infância e lembrar-me-ei da alegria que tínhamos de ir às fogueiras das casas vizinhas, no escuro-breu antes da luz elétrica que a tudo iluminou, lá no Sítio Correios, em Guaraciaba do Norte. Também me recordo das guloseimas, dos aluás, para os adultos, dos bolos para nós, então crianças, das bandeirolas, fogos, traques, músicas, animações, enfim…. Como esquecer dos padrinhos e madrinhas, compadres e comadres, primos e até irmãos de fogueira. Era o tempo bom da inocência.
As nossas festas juninas vêm de Portugal e lá são em celebração a três santos, como nós aqui temos, com peculiaridades próprias, Santo Antônio, São João e São Pedro. Santo Antônio e São Pedro, celebrados nos dias de suas chegadas ao céu; já São João é festejado com fogueira, na véspera de seu nascimento. Diz a tradição que os pais do santo Batista, moravam no topo de uma montanha e que São Zacarias acendeu uma fogueira quando se aproximou o nascimento do menino para anunciar aos parentes que moravam em baixo a chegada do primo e precursor de Jesus.
É dia de fogueira. A segunda deste período. Mantenhamos viva a chama da tradição. Contemos para os nossos filhos, netos, sobrinhos, como eram as festas de junho, por isso juninas; se possível, façamos fogueiras, nos animemos, cantemos, mas, não aglomeremos. Necessitamos desse distanciamento, da máscara e do álcool gel. Não recomendo foguetes por respeito aos animais que sofrem ao estampido deles, mas, uma bombinha, estalinho, pode. O bolo de milho e o pé de moleque não podem faltar!
Pedindo licença à cidade, vou voltar pr’o sítio, de onde parece que nunca saí, e, ilusionando, vou me sentir criança, ouvir Luiz Gonzaga e outros clássicos das festas juninas. E não estarei só. Terei meus pais, quem sabe meus irmãos, as sobrinhas Isadora e Anne Eloísa que fazem o momento ficar encantado e, comigo estarão também tantas lembranças. Algumas tão recentes, outras tão distantes. Talvez até cantarolarei, se a voz não embargar: “Quando eu era pequenino,/ De pé no chão,/ Eu cortava papel fino,/ Pra fazer balão…/ E o balão ia subindo,/ Para o azul da imensidão…/ Hoje em dia o meu destino/ Não vive em paz/ O balão de papel fino/ Já não sobe mais…/ O balão da ilusão…/ Levou pedra e foi ao chão…”
Viva São João e viva a nós, meus compadres!

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