Quanto mais ridículo o participante, maior a recompensa

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Há décadas, renomados teóricos nos advertem sobre os efeitos produzidos pelos meios de comunicação de massa em nossas vidas. Aqui, vamos nos ater aos formatos comunicacionais da TV e da internet. O fato é que estes dois veículos não escondem seus propósitos de interferir em nossas ações, fomentando consumo e prometendo fama, lucro, reconhecimento, enfim, a gloria. Mas os espectadores, muitas vezes, não percebem que por trás de tais promessas, há uma intermitente ordem: “Só tem direito ao prêmio quem se postar ridículo”
Muitos programas de auditório, na televisão, estão sempre com um script pronto, à cata da vítima. O alvo será um deficiente físico, um morador de rua, um nordestino na extrema pobreza, ou alguém solicitando ou recebendo um exame de DNA. Um acometido de obesidade mórbida também serve. São nestas situações, que o infeliz se entrega a uma tortuosa exploração, permitindo que lhe suguem até a última gota de dignidade, ao vivo e em cores. Depois de horas de exposição, sua vida é escancaradas, de forma tão constrangedora, que nos causa compaixão. Os programas policiais também fazem seriados explorando o desalento de parentes de pessoas desaparecidas ou vítimas de assassinato, estupro e outros delitos.
O convidado, entre palmas da platéia e o desdém do apresentador, é totalmente ridicularizado, ludibriado e ainda se acha um verdadeiro premiado. Pois acredita ser recompensado, de alguma forma. Ele não se dá conta de que o comandante do programa busca IBOPE, e que quanto mais pontos na audiência, maior será o lucro financeiro para ele, para a empresa e para os anunciantes. Na seara das TVs abertas, não se salva um. Seja Faustão, Silvio Santos, Gugu Liberto, Rodrigo Faro, João Inácio. Todos eles cultivam a exploração da vulnerabilidade humana, a bizarrice e a falta de ética. Pela sutileza na maneira de entrar em nossas casas e pela facilidade de se apoderar de nossos sentidos, McLuhan chamou a televisão de gigante tímido. Não sei que nome ele daria à internet, que não é nada sutil e talvez mais contundente que a televisão.
Paralelo a todos os benefícios sociais que a internet nos proporciona, há um lado bem obscuro desta ferramenta. Na grande rede, encontramos com muita facilidade, notícias falsas, ameaças, extorsões, planejamento de crimes de toda ordem. Do estelionato ao homicídio. Hoje, com muita abundância, vídeos com toda a dinâmica de homicídios, torturas, estupros coletivos, são postado nas redes sociais. Exibidos como troféus. O autor se sente recompensado pelo fato de perpetrar o crime e ter o poder de divulgá-lo em dimensão global. Não se sabe por que essas ferramentas exercem tanto fascínio sobre a mente e a ação das pessoas.
Agora, vou falar um pouquinho sobre o jornalismo. É que de uns tempos para cá, os profissionais da informação também têm dado seus pulinhos na área do exibicionismo, ignorando o perigo da espetacularização do fato, do sensacionalismo no contexto e do exibicionismo do repórter. O jornalista tem tentado tomar o lugar de honra da notícia. Neste processo de emissão/recepção, a notícia é o objeto; o repórter, instrumento facilitador. Arbex chama tal inversão de valores, de showrnalismo, ao invés de jornalismo. Não é para o este profissional, no momento da transmissão da notícia, promover show com macaquices nem estripulias, capazes desviar a atenção do telespectador.

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