Normalmente um romance histórico busca uma inspiração em fatos do passado, em personalidades históricas ou anônimas. O indianismo brasileiro foi dominado por José de Alencar que inaugurou o romance brasileiro no gênero. É claro, sem querer entrar em polêmica, não se pode esquecer de Manuel Joaquim Pinheiro Chagas, português, romancista, político que nem Alencar e, também, indianista.
Tudo isso me vem à mente quando concluí a leitura “Siara: Uma lenda de Amor”, da confreira Grecianny Carvalho Cordeiro. A autora é Promotora de Justiça no Estado do Ceará, com mestrado em Direito Público pela Universidade Federal do Ceará e pela Universidade de Fortaleza. Escritora e jornalista, articulista do Jornal O Estado. Da Academia Cearense de Letras, da Academia Metropolitana de Letras e da Academia Fortalezense de Letras, entre outras. Autora de livros, jurídicos, romances, poemas.
O livro em comento é um romance histórico. Estamos no Brasil holandês e o Ceará está dividido entre indígenas e holandeses. Neste contexto surge uma história de amor que move a história. É o amor de Laila, uma cacique indígena (é tão diferente que o computador não quer aceitar “uma cacique”), e o holandês Jonas.
De início da história, têm-se a impressão que o desfecho será parecido com Iracema, a lenda da mãe da raça cearense com seu filho Moacir ou filho da dor. Cresci na Ibiapaba, estudei no Ipu e conheço muito bem o cenário e a história de Alencar. Mas, no final o leitor se surpreenderá e aqui não abordarei para que o próprio leitor constate. Além de apresentação, prólogo e epílogo, o romance é composto por 31 capítulos. Romance, histórico, e interessante observar, têm notas de rodapé com fotos históricos e suas páginas lemos, com citações indiretas, Matias Beck, Raimundo Girão, Câmara Cascudo, Barão de Studart, entre outros.
Personalidades históricas são as mais variadas e podemos observar que nossa autora promove um encontro entre Martim Soares Moreno (considerado fundador do Ceará e, ficcionalmente, pai do filho de Iracema citada no início) e Laila, a cacique: “recordava vagamente desse português de nome Martim, trazido à presença de seu pai através do primo Jacaúna”, contextualiza.
Uma das forças motoras do romance é a busca de prata pelos holandeses, suas presenças na serra de Maranguape, Fortaleza, Camocim e na Ibiapaba. Observamos que o romance mostra também a força da mulher indígena e a coragem da cacique Laila quando da retirada dos holandeses do Ceará me lembrou o final do Memorial de Maria Moura, quando a Moura decide ir à batalha contra seus inimigos sem medo de morrer ou com esperança de viver. A cacique não abandona seu povo. É a única sobrevivente e como profetizará, sua história sobreviveu ao tempo, emoldurada pelo amor de um holandês e uma índia. Ela lembra que “Aquele era o seu Siara”. E aquela “espantosa felicidade” ultrapassou a razão sempre mortal diante da imortalidade do amor.
O livro de Grecianny Carvalho Cordeiro é daqueles que devemos ter sempre por perto para quando faltar algo interessante para ler, reler, folhear e se emocionar com tão belo enredo.
Resta, portanto, parabenizar a autora e recomendar “Siara: Uma lenda de amor”, de Grecianny Carvalho Cordeiro (Fortaleza: Sol Literário, 2020, 224 páginas).

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