Um pouco do muito que foi Padre Osvaldo

Vez por outra, Deus suscita do meio do povo homens sábios tais como Salomão, Moisés e Abraão e que, a seu tempo, servem como um referencial, um paradigma de valores, dos quais Deus se utiliza para iluminar e guiar seu povo. Em nossa diocese houve muitos desses. Um delesfez sua páscoa definitiva a poucos dias: Osvaldo Carneiro Chaves, o cristão, o padre, o mestre, o poeta da fé.
96 anos de vida, 68 de sacerdócio. Entrou para o seminário aos 16 anos, vindo da localidade de Angelim, município de Granja. Foi quando resolveu atender a uma inquietação interior que o chamava para o sacerdócio, algo que costumeiramente chamamos de vocação. 80 anos após esse despertar vocacional, ao final de sua vida, era capaz de afirmar com uma convicção madura e profunda: “ainda hoje sinto Nosso Senhor me chamar”.
Da mesma forma que Pe. Osvaldo sentia sua vocação se renovar a cada dia, ele atendeu ao último chamado de Deus, que o chamou a tomar parte em sua glória. E o nosso mestre partiu desse mundo. Fez seu desapego final. Desapegou-se da terra. Desapegou-se do tempo. Para ele não foi difícil essa partida, pois ele já vivia tão desapegado de tudo, tão livre das coisas do mundo. Era como um pássaro que já ensaiava seu voo final.
Para quem o conheceu e pôde conviver com ele muitos ou poucos anos, custa-nos definir sua personalidade, seu jeito de ser. Sua humanidade abarcava entre outros aspectos a simplicidade, a espiritualidade, a intelectualidade, o amor que nutria a Deus e às pessoas. Era portador das duas sabedorias: a sabedoria terrena, pela qual dominava as letras e as mais diversas áreas do conhecimento, e a sabedoria celeste, dom do Espírito Santo. Era um ser humano sedento pelo conhecimento e afirmava conhecer o mundo todo sem nunca ter viajado. Transportava-se no tempo e no espaço nas asas dos livros de sua imensa biblioteca.
Certa vez, Pe. Osvaldo foi indagado sobre o porquê de não utilizar internet, nem celular, nem computador. Ele afirmou que o motivo era a falta de tempo. E apontando para seus livros, disse: “tenho o mundo todo a desbravar!”. Era assim que ele, recluso em sua casa, consumia o tempo de seus últimos anos. Além disso, estava sempre rezando e celebrando a Santa Missa sozinho. Fazia a leitura diária do Martirológio Romano e dizia inspirar-se com a vida dos santos.
Além da biblioteca que possuía em casa, ele em si era uma biblioteca viva. Portador de uma mente incrível, estava sempre informado. Era atualizado de tudo o que acontecia na diocese, na Igreja e no mundo, pois lia jornais, ouvia rádio e assistia telejornais.
A poesia era outra marca registrada desse sacerdote. Escreveu poemas sobre os mais diversos assuntos e, através deles, foi um infatigável anunciador do Evangelho, um profeta corajoso e destemido que sempre fazia denúncias sociais. “Minha cabeça é um ninho de poemas. Um incêndio de ideais é o meu coração!”, afirmava o padre.
A Universidade Estadual Vale do Acaraú o considerou Doutor Honoris Causa da instituição. Porém, ele mesmo nunca quis títulos nem honrarias. Nunca quis aparecer nos primeiros lugares e dispensou os títulos eclesiásticos. Mesmo depois de padre, trazia as marcas do Seminário da Betânia na disciplina, no gosto pelos estudos, no fervor religioso e na reverência que tinha pela autoridade episcopal.
Vale destacar também o seu falar, a sua expressão. Como um grande mestre das letras, falava de forma pontual e bem pronunciada. Expressava-se utilizando-se de palavras diferentes, acentuando e ritmando aquelas mais expressivas. Em uma simples conversa que se tinha com ele, por mais informal que fosse, podia-se perceber que seu falar era poético. Para transmitir seus ensinamentos, utilizava metáforas, comparações e alegorias.
Pe. Osvaldo dominava vários idiomas, mas o seu amor era pela língua portuguesa, a última flor do Lácio, inculta e bela. Sabia a etimologia das palavras e ia buscar suas origens no grego e no latim. Em sua humildade, afirmava que só sabia falar português e dizia em tom de brincadeira: “se algum estrangeiro quiser falar comigo, aprenda o português”.
Além de mestre nas letras, era um mestre de espiritualidade. Discípulo de Santa Teresinha, aprendeu com ela a servir a Igreja na fecundidade da oração. Mesmo recluso em sua casa, as pessoas iam até ele, naquele local rodeado pela natureza, cheio de pássaros a voar pela casa. Iam até ele para confessar-se, para uma direção espiritual, para ouvir uma palavra de conforto ou simplesmente para visitá-lo e, de alguma forma, beber daquela fonte de sabedoria. E todos saíam de lá saciados pelo Deus que emana de sua presença.
Aos seminaristas, sempre tão bem acolhidos por ele, deixava como ensinamento principal a simplicidade: “sejam simples como a natureza. Vejam o sol, a lua, as flores, os pássaros, o entardecer, tudo na natureza é simples e belo”.
Que grande homem! Que ser humano incrível!Nessas linhas está expresso apenas um pouco do muito que foi Pe. Osvaldo Chaves. Quiséramos escrever muito mais sobre essa figura. Consola-nos, porém, a esperança de que ele seja um monumento perene erigido nas páginas da história desta diocese.
Como o grão de trigo que cai na terra e morre para frutificar, Pe. Osvaldo, ao nos deixar, permanece vivo em seus poemas, sermões, ensinamentos e em todos quantos o conheceram. E cada um destes pode dizer: há em mim um pouco da vida de Padre Osvaldo!



