Vocação eclesial, sim!

Muito nos chamou atenção a homilia proferida pelo Santo Padre, o Papa Francisco, na solenidade da Epifania do Senhor, no último dia 06 de janeiro. Diante das divisões dentro da Igreja, o papa convida todos os cristãos a reassumirem a vocação eclesial e disse um veemente “não” àquilo que ele chamou de “ideologias eclesiásticas”.
Bem sabemos que, por trás dessas “ideologias eclesiásticas”, estão ideologias políticas de caráter extremista, que têm arrastado muitos cristãos a perderem o senso da comunhão eclesial. São ideias políticas que influenciam muitas pessoas, principalmente através das mídias virtuais. Com isso, a mensagem central da Boa-Nova pregada por Nosso Senhor Jesus Cristo acaba sendo mutilada por certos grupos reacionários, cada vez distanciados da autêntica vocação batismal de ser Igreja.
São muitas as páginas e canais nas redes sociais que, em nome de uma falsa defesa da doutrina católica, acabam traindo a mensagem do Evangelho. Propagam ideias, costumes e pensamentos que não mais correspondem com as atuais exigências da fé cristã. Pensam o catolicismo como algo cristalizado no tempo e no espaço e tentam construir uma Igreja autorreferenciada, de cristãos intimistas, cheios de si, mas vazios de Deus.
Na referida homilia, o Papa Francisco afirmou que a fé “não se reduz a um conjunto de práticas religiosas ou a um hábito exterior”. O caminho da fé deve ser, antes, “um fogo que arde dentro de nós e nos faz tornar apaixonados indagadores do rosto do Senhor e testemunhas do seu Evangelho”.
Somente quem se arrisca a trilhar esse caminho de amor pode encontrar o sentido de estar em comunhão com a Santa Mãe Igreja. Não vamos encontrar o caminho da verdade seguindo ideologias fundamentalistas, que espalham preconceitos, exclusão, medo e condenação. Por isso, o papa afirmou na mesma homilia: “Ideologias eclesiásticas, não; vocação eclesial, sim”.
Entendemos por vocação eclesial aquilo que está no fundamento da fé cristã: a comunhão. A nossa fé possui uma dimensão eclesial/comunitária. Somos a Igreja que diz: “eu creio, nós cremos”. Por isso, os cristãos católicos que se posicionam contra a Igreja com posturas enérgicas e reacionárias não estão a serviço da comunhão eclesial, mas estão dividindo a Igreja, segregando o Corpo de Cristo. Estão, portanto, em “des-serviço” ao Evangelho.
É urgente a necessidade de redescobrirmos a nossa vocação. Cada batizado é chamado a ser Igreja em todo tempo e lugar. O senso eclesial está presente em nossas boas canções católicas, quando se canta: “Eu sou Igreja, você é Igreja/ Somos a Igreja do Senhor/ Irmão, vem ajuda-me/ A edificar a Igreja do Senhor”.
Somos todos convidados a edificar a Igreja do Senhor. Como pedras vivas desse grande edifícil espiritual, precisamos viver nossa vocação à fraternidade, à unidade, à amizade, à solidariedade, ao amor, à vida plena. Eis a nossa vocação eclesial que o nosso Santo Padre nos chama a abraçar. Não destruir, mas, juntos, edificar a Igreja do Senhor!



