editorial cs

“Bendita e louvada seja a Paixão do Redentor!” Esse verso de um bendito popular reflete a reverência que o povo cristão presta ao mistério da Paixão de Cristo. Principalmente agora em que os “dias grandes” se aproximam com toda a sua carga espiritual e litúrgica. Na verdade, tal mistério, que resiste à passagem dos séculos, intriga o entendimento humano por ser, aparentente, o fim trágico e doloroso de um Deus humanado.
Custa-nos muito entender como o poder político e religioso da época, motivado pelo próprio povo, programou a execução de quem só fez o bem e não carregava nenhum mal ou pecado sobre si. E ainda assim, a fidelidade de Jesus foi provada e Ele amou até o fim, aceitando o suplício da cruz, padecendo uma morte, no mínimo, vergonhosa.
Por isso foi tão difícil para os apóstolos entenderem e aceitarem aquele acontecimento e o posterior silêncio que se seguiu nos três dias posteriores. E que longos três dias para quem havia depositado em Jesus a esperança de salvação. O episódio dos discípulos de Emaús demonstra a desolação de muitos.
Contudo, dois milênios se passaram e o insondável mistério permanece velado sob o manto da nossa fé. Parafraseando São João Paulo II, só o amor pode nos explicar tudo isso. Só o amor de um Deus apaixonado, capaz de assumir a condição humana, com tudo o que ela encerra, padecendo tentações atrozes, sofrendo uma morte infame e cruel.
Assim, tudo o que é celebrado na Semana Santa aponta para um amor insondável, indizível, inesgotável, que a humanidade não consegue abarcar mesmo com todas as respostas e explicações que a razão humana já alcançou. Mas, ao mesmo tempo, a Cruz de Cristo nos ensina da forma mais credível possível o caminho do amor. E somente nesse amor, que passa pela Cruz, é que a vida adquire o seu sentido mais completo.
Desse modo, entendemos também que o sofrimento é uma condição existencial da vida. O sofrimento de Cristo está profundamente relacionado à dor humana. A paixão de Cristo é a paixão dos homens, e Nele o sofrimento humano adquire sentido e consolo. É por isso que sempre se vivenciou com tanto fervor as celebrações que nos trazem a memória da paixão do Senhor, como os ofícios, as procissões, as vias-sacras.
E, nesse ano, mesmo com toda a situação pandêmica, não podemos perder de vista o sentido da Semana Santa, com todo o mistério e o amor que são celebrados nesses dias. Todas as dores e sofrimentos da humanidade precisam ser colocados diante do grande mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. É necessário contemplar esse Deus que caminha conosco, sofre conosco e nos fará, um dia, ressurgir do mal.

Pela Cruz de Cristo, que assim seja!

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