Por Matheus Ribeiro, seminarista
Se a beleza franciscana fosse pelos modernos escritos considerada em sua essência, haveria de decepcionar-se profundamente os que fazem da história do Pai Seráfico o sustento de ideias que desfiguram o legado da ordem mendicante. Não seria eu faltoso se, no próximo artigo, valer-me da ocasião do dia de Santo Antônio para louvá-lo adequadamente, mas a desgraça é minha e nossa, e não sei se diria o mesmo santo que no dia 13 celebraremos, que ao invés de levantar elogios à grande Arca do Testamento (como assim o chamou Gregório IX), terei eu que fazer hoje desagravos a Santo Antônio, com o qual incluo uma singela reparação à memória franciscana.
Com esta vileza, meu grande Santo, já diz a insolência daqueles que desvirtuam vosso legado o qual equilibrou os cátaros e fez os peixes sacudirem as barbatanas, que fez Lisboa adotá-lo mestre e Pádua doutor. Se não me constrange saber que no breviário, entre parênteses, está Lisboa da qual trouxestes vossa eloquência, e em Pádua que praticastes o que no vosso coração estava inscrito desde a tenra idade, é nestas terras de Santa Cruz que me faz pesaroso não vos ver venerado pela altivez com que transformastes o mundo e a Igreja, mas por serdes utilizado como instrumento ideológico de falsos profetas. O meu intento não é tirar deles o direito adquirido, mas defender-vos pelo que foi tirado de vós e de vossa santa ordem. Santo Antônio, inverteu-se tudo; já não é pobre por amor a Cristo Jesus, mas pobre porque contraria um sistema vigente, deprecia o amor à pobreza evangélica e respinga dizeres de insatisfação com o “opressor”. Se considerássemos o valor que tem a pobreza em si, seria ela um infortúnio, vivamo-la com Cristo, tornando-a virtude!
Olhai, Santo Antônio, o que já dizem estes homens insolentes, com sucessos prósperos, que vós lhes dais, ou permitis. Já dizem que porque é de Deus as suas ideias, são elas verdadeiras, e por isso Deus os benze. Depois, nos púlpitos que não são mais púlpitos, dizem que a Igreja de Cristo, a qual tanto defendestes, agora é uma Religião corrompida onde a salvação transcende cá debaixo para mais embaixo, e que a vida do cristão deve ser pautada numa constante luta, não contra o pecado, mas contra as opressões da história. Necessitamos de vossa santa intercessão, oh glorioso, porque hoje nos sujeitamos às loucuras de um sal insosso, do qual alimenta a alma dos fiéis com novidades de que a salvação se faz com libertações históricas, onde Jesus a partir destas libertações salva a humanidade e seu povo. É por isso, meu Santo, que jesus cura, faz milagres e expulsa os demônios, motivos pelos quais não é por demonstração de seu poder e de sua misericórdia, mas por pura instrumentalização da fé. Dizem com tanta força, da Religião que Deus os abençoou serem filhos, ser agora uma instituição alienante, porque se ocupou de apontar para o céu, deixando de lado o clamor dos que neste mundo viveram. Se isto vos for confirmado em verdade, Santo Antônio, clamarei mediante vós a conversão destes homens ao equilíbrio, porque vestidos de púrpura, dizem estas coisas disfarçadas aos ouvidos dos próprios leigos, que sofridos pelas mazelas deste mundo, procurarão encontrar a luz por um caminho de escuridão.
Assim sendo, amigo da pobreza, quando volverdes os sentidos à confusão do nosso tempo, não se esqueçais também do auxílio da Virgem Maria, ela que há muito rezamos aquelas aparições onde suplica a conversão dos pecadores e o reparo ao Coração de Jesus.

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