ÚLTIMO DESEJO: Antes de “Quando eu me chamar saudade”
No meu entendimento, quando alguém manifesta seu último desejo, nem sempre significa dizer que está aspirando a usufruir bem, a seu gosto, dos derradeiros momentos aqui na Terra. Muitas vezes, isso denota também um apelo para que, ainda em vida, essa pessoa possa ter a esperança de sentir que será lembrado e atendido, mesmo depois que se chamar saudade.
Trata-se de uma atitude muito subjetiva e corajosa de quem está-se despedindo do mundo. Já da parte de quem fica, resta apenas envidar esforços para cumprir, sem questionar o que motivou tal pedido. Enfim, é questão de escolha e de gosto que só interessa ao solicitante.
Pois bem! Sempre que escuto “Último desejo” (Noel Rosa e Vadico) e “Quando eu me chamar saudade” (Nélson Cavaquinho e Guilherme de Brito), lembro-me de um tempo bom, de muito aprendizado e de alguém que t6ambém gostava dessas pérolas da MPB. Foi uma década de salutar convivência diária com Mons. Francisco Sadoc de Araújo, uma das pessoas mais cultas, empreendedoras e de humildade e simplicidade ímpares que já conheci. Além de sacerdote, historiador, professor, psicanalista (prático), o respeitado e querido Monsenhor é músico e apreciador da boa música, inclusive da profana. Dizia concordar plenamente comigo quando eu qualificava esses dois sambas como “clássicos do nosso cancioneiro”.
Isso ocorreu no período de 2002 a 2011, quando prestei minha colaboração ao Mons. Sadoc de Araújo, sendo meus esforços concentrados na Rádio Dragão do Norte (Rádio Ressurreição), por ele fundada em 2002. A emissora se constituía a “menina dos seus olhos”; para ela, o sacerdote carreou muitos recursos próprios e boa parte da sua vitalidade. Lamentavelmente, algumas pessoas até que tentaram dar continuidade àquele belo projeto, mas não conseguiram lograr bom êxito. Hoje, a Ressurreição encontra-se praticamente desativada, sendo uma incógnita saber quem está no seu comando.
Durante esse período ampliei muito meus conhecimentos em diversas áreas, graças aos ensinamentos desse ilustre religioso e suas lições de vida repassadas em cada atitude sua. Dada nossa boa convivência, trocamos muitas ideias, mantivemos descontraídos e interessantes papos e com ele dirimi muitas dúvidas. De sobra, consegui também ganhar sua total confiança, a ponto de ele afirmar que me confidenciava coisas que jamais contaria a alguém.
Numa dessas conversas, de forma totalmente consciente e segura, Mons. Sadoc me confessou sua última vontade: SER SEPULTADO NO COMPLEXO EM QUE FICA A PARÓQUIA DO CRISTO RESSUSCITADO (IGREJA DA RESSURREIÇÃO). E mais: Voltou diversas vezes ao assunto, sempre solicitando minha opinião sobre seu último desejo e pedindo sugestão sobre o local onde deveria construir seu túmulo.
Diante desse apelo, ensaiei algumas vezes tornar pública essa tocante confissão e até pensei em publicá-la na imprensa falada e escrita. Mas sempre esbarrava no receio de ser mal interpretado por alguns, que julgavam não ser oportuno dar ampla divulgação àquele pedido, haja vista o confidente (Mons. Sadoc) ainda estar entre nós.
Infelizmente, tal atitude alerta para a necessidade de tentarmos mudar essa equivocada e medrosa visão de temas que envolvem morte, fazendo dela ainda um tabu, que deve permanecer intocável. É preciso que aprendamos com os orientais a perder esse exagerado, às vezes, doentio, temor de encarar o inevitável (a morte). E, pasmem, tudo isso ocorre por insistirmos em não querer reconhecer e encarar a maior certeza que temos na vida: a finitude do ser humano.
Mas voltando ao Mons. Sadoc, ultimamente, diante do seu grave estado de saúde, aquela sua antiga confissão passou a ressoar na minha mente como um pedido de ajuda, um aceno para a tentativa de concretização do sonho do amigo e mestre. Outro fator a me estimular nesse questionamento é a inércia quanto ao caso e a exiguidade do tempo para a tomada de providências, já que se trata de algo a ser feito imediatamente, para ontem.
Meu alerta por urgência nas ações por mim defendida foi reforçado mais ainda quando tomei conhecimento de que Mons. Sadoc compartilhou esse assunto com várias outras pessoas, como Francisco Lira (PRF), Dra. Rita Vasconcelos, Joab Aragão, Maninha Lopes, Paulina Souza, Rejânio Aguiar e até mesmo manifestou isso publicamente em reuniões na as paróquia.
Ao meu ver, a história e o legado do Mons. Sadoc são plausíveis e convincentes bastantes para estimular e gerar um esforço conjunto de todos que o admiram, num único objetivo: fazer tudo para concretizar a última vontade do Monsenhor; deixar que seus restos mortais descansem definitivamente na área da Paróquia da Ressurreição, local por ele escolhido e adquirido com seus próprios recursos. Além disso, a duras penas e com ajuda de seus paroquianos e de amigos, Mons. Sadoc, construiu tudo o que lá existe: Capela, Rádio, CEPI, Biblioteca salões e outras coisas.
Dessa forma, nada mais justo que dar ao Monsenhor o direito de gozar do seu sono eterno no local ao qual se entregou de corpo e alma. E foi exatamente ali onde Mons. Sadoc se fixou nos seus últimos anos, sonhando, idealizando, trabalhando, disseminando o Evangelho e tudo fazendo pelo próximo.
Fica aqui a minha opinião e as ópiniões das pessoas que também escutaram do próprio Mons. Sadoc de Araújo seu último desejo. Acredito que cumprimos a parte que nos toca. Agora, é torcer para que a Igreja e as autoridades competentes façam sua parte o quanto antes.
Que o sonho do nosso Monsenhor Sadoc não esbarre em algum empecilho ou alegações de ordem jurídica. Enfim, nesses casos a legislação brasileira é cambaleante e ainda é vaga.
Que a última vontade do nosso Monsenhor tenha o mesmo desfecho da última vontade do Mons. Jonas Abib, que faleceu aos 85 anos, em Cachoeira Paulista (SP). Seu colega paulista, Mons. Jonas, também desejava ser sepultado seu “lugarzinho especial” e não em cemitério tradicional. Assim, atendendo ao seu último desejo, seus restos mortais foram enterrados na sede da Comunidade Canção Nova, por ele fundada naquela cidade. Portanto, se houver boa vontade e esforço a história se repetirá.
Finalizando, a fim de que o “ÚLTIMO DESEJO” do Mons. Francisco Sadoc de Araújo seja plenamente realizado, conclamo a todos para que continuemos a ensinar o refrão do samba de Nélson Cavaquinho e Guilherme de Brito e a agir segundo ele: “SE ALGUÉM QUISER FAZER POR MIM / QUE FAÇA AGORA”. Depois, prece e nada mais.
Fiz minha parte!
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