Fátima Moura

Pare de copiar os outros, você não tem personalidade? Já ouvimos muito estas frases no meio familiar, nas rodas sociais de variados ambientes, seja trabalho, na escola ou no lazer. Personalidade tem a ver com a imagens que construímos de nós mesmos para apresentar aos outros. Todas as pessoas têm personalidade e ela nasce no exercício da interação social A termo personalidade deriva da palavra italiana persona – máscara que se usava para caracterizar cada tipo de interpretação no teatro. E no grande palco da vida, as pessoas usam máscaras para exercer seus papeis na sociedade: o chefe, o religioso, o pai de família, a secretária, o médico, a esposa, a mãe, o filho. No cotidiano, as pessoas incorporam tipos para se apresentarem na sociedade. Usam a máscara para impressionar, para garantir seu espaço em determinado núcleo, para fazer jus às convenções sociais. Enfim, para dar uma característica aparente, mas talvez incompatível com seu verdadeiro caráter.
E por força das circunstâncias, as pessoas usam mais de uma máscara. Uma para cada núcleo social, dependendo do papel exercido em cada grupo ou ambiente. A personalidade expõe as versões de tipos que todos os indivíduos cultivam. Comportamentos, ações, posturas são selecionados de acordo com a impressão que um indivíduo deseja causar quando interage com outras pessoas. Portanto, a persona apresentada em público varia de acordo com o ambiente social que a pessoa estiver inserida. Mas, com certeza, a máscara exposta ao público se diferenciará do traço comportamental que virá à tona quanto o indivíduo se encontrar consigo mesmo, na reflexão; quando puxar uma conversa com seu travesseiro.
Além das máscaras que construímos para encarar o convívio social, vamos adquirindo rótolos associados à maneira de vestir, à marca do carro, ao tipo de casa e local onde moramos. E isso vai somando elementos na construção de nossa identidade. Nossa personalidade é comparada a uma massinha plástica palpável, manipulável, moldável e disponível a um determinado contexto. Através de nossas ações cotidianas, fornecemos um grande número de elementos que vão formular a nossa máscara de atuação, ou seja, nossa personalidade. Para sermos coerentes, com as regras comunitárias, somos praticamente obrigados a usar máscara que a gente mesmo ajudou a confeccionar. E quando, por algum motivo, não podermos mais segurar tal artifício, vão dizer que a máscara caiu. Porque, de cara limpa, iremos mostrar quem realmente somos, no íntimo, na individualidade. E o caráter será verdadeiramente apresentado. Porque a personalidade tem a ver com impressão que causamos aos outros, tem a ver com o que fica explicito, na forma de apresentação. Já o caráter representa quem realmente a pessoa é. O caráter traduz a autenticidade do sujeito.
O caráter confere traços morais da personalidade. O conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa é o que vai determinar a conduta, a o grau de moralidade. Neste rol de virtudes entram valores, posicionamento ético, coerência das ações do indivíduo. Então, quando a máscara ruir, o caráter emergirá das entranha da alma. Vou explicar melhor. Vejamos alguns exemplos de máscaras construídas pelos próprios atores, juntamente com a sociedade, que acabaram despencando e mostrando o verdadeiro caráter do usuário. Para que situação mais contundente que o caso do médico paulista Roger Abdelmassih? Ele era especialista em reprodução humana, um dos pioneiros da fertilização in vitro no Brasil. A partir de 2009, foi acusado de violentar sexualmente suas pacientes enquanto estavam sob efeitos de sedativo. Até então, a máscara que ele usava era de um profissional fora de qualquer suspeita, até que várias de suas pacientes o denunciaram. A máscara despedaçou-se.
O mesmo aconteceu com médium João Teixeira de Faria, o João de Deus ou João de Abadiânia, Minas Gerais. Era um médium curador com fama no exterior, que usava a máscara de santo para também abusar sexualmente de pessoas com a saúde bem debilitada. São exemplos de máscaras meticulosamente construídas, e que caíram de forma vertiginosa e logo o caráter transpareceu. Veja também, recentemente. o ex-prefeito de Uruburetama -CE, José Hilson de Paiva, além das máscaras que usa no seio familiar, nas rodas de amigos, usou, por anos, a persona de bom político e de médico eficiente. Um ginecologista que além de estuprar as pacientes, fazia gravação do ato criminoso. As máscaras se diluíram num mar de lamas. Antes, elas serviam para apresentar vários personagens: o bom marido, o chefe de família, o prefeito, médico, interpretado por um maníaco contumaz O chamado mau caráter.
Digamos que o caráter é a parte rígida da personalidade, não se posta tão submissa à opinião pública, porque esta particularidade faz parte do entendimento, do sentimento, do discernimento da pessoa. Ela representa o EU de cada indivíduo, e está resguardada na intimidade. Dependendo do direcionamento de suas ações, o indivíduo será definida como bom ou mau caráter. Quando a persona não resistir às pressões sociais, o caráter se revelará, com certeza.

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