A bênção como objeto da moral nordestina

Monteiro Barbosa – Seminaristalucas18@gmail.com
Como todos os povos, o nordestino é constituído de uma moral, isto é, um código de condutas que norteia e afirma a própria sociedade, definindo-a como tal (DURKHEIM, 1970, p. 44). Das regras inexoráveis da moral nordestina, uma, em especial, se destaca pelo seu caráter essencialmente hierárquico, a despeito de sempre parecer de cunho religioso. A “bênção” que costumeiramente pedimos aos nossos pais, avós, tios e padrinhos é uma regra assistemática muito presente na região do nordeste brasileiro que remonta aos tempos da colonização e catequização de nosso povo, embora tenha tomado rumos diferentes de uma pretensão exclusivamente catequética. A “bênção” traduz uma profícua disciplina dentro de uma hierarquia clânica.
Em seu Dicionário de liturgia, Monsenhor Sabino Loyola, define a bênção como um “Dom ou presente feito aos homens” (cf. LOYOLA, 1994, p. 130). No princípio a bênção era pedida e recebida exclusivamente dos sacerdotes católicos, entretanto, com a anuência do clero, informalmente a “autoridade” de se dar a bênção se estendeu para os leigos. Em pesquisas realizadas em algumas comunidades de Massapê, Coreaú e Taperuaba, destacando-se nesta a comunidade de Bilheira, evidenciamos que a bênção não é dada pelos amigos, vizinhos e/ou colegas de um indivíduo, mas por aqueles que receberam a incumbência da formação assistemática, ou seja, da educação dos indivíduos, pais, avós, tios, padrinhos e, às vezes, algum ancião respeitado e que goze da reputação de sábio em sua comunidade. Todos tendo a “autoridade de conceder” a bênção a quem lhes pede.
Apesar de que em alguns casos, não tão raros, a bênção seja concedida de forma tão devota, exprimindo um sentimentalismo religioso, tornou-se trivial em nosso meio, em alguns casos até em indivíduos que não tem uma crença religiosa definida, o que exclui, de certa forma, o cunho essencialmente religioso da “bênção”. Ao pedir a bênção a algum membro mais velho da família, sobretudo àqueles sem os quais o indivíduo não existiria (pais e avós), o individuo se põe em uma posição inferior e submissa na hierarquia familiar. Embora esta realidade possa soar de forma um tanto opressora, é, na verdade, uma forma leniente através da qual se expõe um respeito aos mais velhos. Constata-se que onde há esta prática, peremptoriamente há harmonia entre um clã e, portanto, o nordestino se faz irredutível à proficuidade da bênção. Embora se encontre, não com a mesma intensidade que no nordeste, esta prática em outras regiões do Brasil, evidencia-se a influencia nordestina a partir de nordestinos que saíram de suas terras de origem em várias diásporas sertanejas. Em todo caso, a bênção é, efetivamente, um item da moral nordestina, expressando, pois, toda uma cultura e definição do povo, sobretudo do Sertão.
Monteiro Barbosa em pesquisas realizadas em Boa Vista dos Costas nas redondezas de Taperuaba no ano de 2019.



